Saudação do Papa Bento XVI aos jovens.

“O homem não pode viver sem esta busca da verdade sobre si mesmo; verdade que o leve a abrir o horizonte e a ir além do que é material; não para fugir da realidade, mas para vivê-la de uma forma ainda mais verdadeira, mais rica de sentido e de esperança”.

“Sejam confortados pelo testemunho de tantos jovens que atingiram a meta da santidade: pensem em Santa Teresa do Menino Jesus, São Domingos Sávio, Santa Maria Gorete, o beato Pier Giorgio Frassati, o beato Alberto Marvelli – que é desta terra!”.

Catedral de San Marino -20 de junho de 2011

Pier Giorgio Frassati e a experiência de Deus.

Silvia Regina Brandão*

Atualmente o contexto cultural no qual se dá o processo educativo de crianças e jovens caracetriza-se por múltiplos e atraentes instrumentos de informação e comunicação, por mudanças rápidas e constantes, por variados e, muitas vezes contraditórios, valores e  referências  propostos pela família, escola, grupo de amigos, etc..  A característica comum a esses ambientes formativos  parece ser a falta de espaço para o acontecer humano, particularmente para o desejo ou exigência humana fundamental de identificar algo de válido e de certo, objetivos sólidos com os quais construir a vida. Há uma busca constante pelo bem-estar momentâneo, um fechamento no horizonte estreito da imanência e do pragmatismo e a experiência da dor por não ser olhado e recebido pelo que se é. Verifica-se claramente a necessidade de escuta e orientação – tanto dos educandos quanto dos educadores – que possibilite a descoberta de si e previna o risco de esvaziamento da pessoa ou de perda da identidade. Diante das solicitações de todo tipo presentes na sociedade contemporânea que, em ritmos crescentes exigem respostas cada vez mais rápidas, torna-se imperioso a existência de espaços de acolhimento do humano – dos jovens e adultos – que favoreçam o processo formativo e de crescimento pessoal. É preciso oferecer ambientes em a pessoa possa existir, ser como é, expressar sua humanidade no que tem de mais orginário que é a busca de sentido, do mistério, do infinito.  A Igreja é chamada a constuir-se cada vez mais em uma morada capaz de acolher o humano, um lugar em que seja possível conhecer pessoas que vivem ou viveram nesse contexto com toda sua humanidade, dando testemunho de que a experiência cristã convém ao homem atual e é essencial para que ele possa lembrar-se de quem ele é. Pier Giorgio comunicou  com sua existência concreta que o encontro com Cristo é interessante para vida, torna-a mais fascinante e realizada. Esse é o nosso desejo e pedido: que possamos fazer a mesma experiência que ele nos dias de hoje.

*Psicóloga, Doutora em Educação,professora da Faculdade Santa Marcelina

Fragmentos do livro escrito por Luciana Frassati, irmã do Beato Pier Giorgio Frassati

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Diego Silva*

Em seu livro: Pier Giorgio Frassati: los dias de su vida, autoria de Luciana Frassati, irmã do Beato Píer Giorgio Frassati, nos traz detalhes valiosos da vida de Píer Giorgio. Primeiro, pelo fato dela ser irmã dele e ter tido um contato muito próximo, segundo, pela confiabilidade nos relatos.

O livro traz o prefácio escrito pelo teólogo jesuíta, Karl Rahner. Em seu prefácio Rahner comenta que conheceu pessoalmente Pier Giorgio Frassati quando ele foi hospedado na casa de sua família. “Conheci pessoalmente Frassati e que, apesar de passados cinqüenta anos, sua lembrança  é viva para mim”, comenta Rahner.

O próprio Rahner nos relata a impressão que o jovem lhe causou:

“Frassati representa o jovem cristão puro, alegre, dedicado a oração, aberto a todo o livre e belo, preocupado com os problemas sociais, que leva em seu coração a Igreja e seu destino, e todo ele é uma sinceridade serena e viril.”

Pier Giorgio nasceu ao som dos sinos que anunciava a festa da Ressurreição, no dia 06 de abril de 1901, às 18:30, na cidade de Turim, Itália. Seu pai se chamava Alfredo, dono do jornal La Stampa e sua mãe Adelaida Ametis.

Como sua irmã nos relata e confirmar o que sabíamos, ele era muito apegado a sua mãe, Adelaide, de quem aprendeu a piedade cristã. Assim sua irmã nos diz como ele era quando criança:

“Pier Giorgio crescia sério, justo, muito bonito; não se dava conta dos paravam na rua para lhe olhar, dos que admiravam seus enormes olhos negros, com o branco quase azul, abertos em uma cara que refletia a viva imagem de saúde.” (p. 33)

E nos diz de sua adolescência:

“Moreno, algo mais alto que média, era de homens ombros e braços forte. O cabelo rebelde marcava seu rosto harmônico com uma ponta central baixa. Umas sobrancelhas  grossas e perfeitamente marcadas se uniam ao olhos negros e muito grandes, cheia de expressão, com seus cilhos grandes e enrolados, que acentuava a profundidade de seus olhos, nariz aquilino, boca normal, mas se destacava sobre a pele morena do seu rosto; dentes branquíssimos. Orelhas pequenas, bem dispostas.

Sua postura, sua posição social, sua saúde excelente, que para os outros poderia ter sido peça de tropeço, foi para Pier Giorgio, porque assim desejou, escadas para subir. E sempre vencia sem uma queixa ou lágrima.”

Pier Giorgio admirava as cartas de São Paulo. “A mente, embreada de tanta ciência árida, encontra de vez em quando prazer, refúgio (refrigério) e gozo espiritual na leitura de São Paulo.” (p. 165) O Evangelho preferido de Pier Giorgio era São Matheus. Gostava de forma particular do sermão da montanha. Conhecia, também, a Rerum Novarum e De contemptu mundi, do papa Inocêncio III.

O conhecimento das encíclicas papais, sobretudo as encíclicas sociais, irá desperta no jovem Frassati o interesse pelo social e a política, “tinha desejo de gritar, de inscrever na política, de fazer ouvir sua voz a favor de uns ou de outros.”

Demonstrava desde de pequeno preocupação pelos problemas sociais. Sua caridade e desapego aos bem materiais lhe inspirava a prestar ajuda a todos. Sua visão política era muito clara,  sua posição contra ao liberais lhe fez entrar em conflito com seu pai. Ingressou na Federação de Estudantes Católicos, Ação Católica, Partido Popular Italiano, Federação de Estudantes Católicos à Organização Católica de Trabalhadores. Tinha consciência que  somente quando os católicos trabalharem de forma organizada é haverá de fato uma mudança das estruturas sociais, pois estas mudanças estarão inspiradas pela caridade cristã, que somente Cristo pode oferecer. 

“Há no mundo tanta gente perversa  e desgraçadamente muitos que de cristão só tem o nome, mas não o espírito; por isso creio que teremos que esperar bastante ainda a que chegue a verdadeira paz. Mas nossa fé nos ensina que temos que conservar sempre a esperança de desfrutá-la algum dia. A sociedade moderna se funde em dor das paixões humanas e se afasta de todo ideal de amor e de paz.”

Em uma conferência para a Sociedade São Vicente sobre a caridade, Pier Giorgio exorta aos jovens: 

“Cada um de vós sabe que a base fundamental de nossa religião é a Caridade, sem a qual nossa religião fracassaria, porque não seremos verdadeiramente católicos enquanto não cumpramos, ou seja, enquanto não adequamos toda nossa vida aos mandamentos são a essência da Fé católica: Amar a Deus com todas as nossas forças e ao próximo como a nós mesmo. Aí está a demonstração explícita de que a Fé católica se baseia no Amor, e não, como tantos queriam, para poder tranqüilizar sua consciência, basear a Religião de Cristo na violência.

Com a violência se semeia o ódio e logo se recolhe os frutos nefastos dessa colheita; com a caridade se colhe a Paz entre os homens, mas não a paz do mundo, mas sim, a verdadeira Paz que só a Fé em Jesus Cristo nos pode dar, irradiando uns aos outros.

Eu sei que esse caminho é árido e difícil e cheio de espinhos, enquanto que o outro, à primeira vista, poderia parecer mais fácil e mais satisfatório; mas se pudéssemos mergulhar dentro daqueles que, desgraçadamente, seguem os caminhos perversos do mundo, veríamos que nunca há neles a serenidade que procede de quem tem enfrentado milhares de dificuldades e renunciado a um prazer material para seguir os caminhos de Deus.”

Pier Giorgio morreu de poliomelite grave, sua irmã nos relata como foi seu últimos dias. Esta parte do livro é maravilhoso, percebemos detalhes emocionantes de sua vida. Pier Giorgio definhava em sua cama. Todos da casa estavam preocupados em atender sua avô doente: “ninguém se preocupou com ele. Inclusive eu, ainda que algo intuía vagamente,  não fui muito atenciosa. “Pier Giorgio vomita e tem febre”, insistia a minha mãe que sempre havia dito que os dois sintomas juntos é motivo de alarme, mas mamãe, muito afetada pela doença de minha avô e pela iminente separação matrimonial, não me fez caso.”

Pier Giorgio recebeu a santa confessou e recebeu a santa Comunhão, recebeu a unção dos enfermos às quatro horas da madrugada. Morreu no dia 04 de julho de 1925, apenas três dias depois de sua avô. As ruas da cidade foram tomadas por pessoas que foram em seu velório lhe render suas últimas homenagens. Muitas dessas pessoas eram pobres e doentes aos quais Pier Giorgio atendeu ao longo de sua vida.

Pier Giorgio foi proclamado Beato no dia 20 de maio 1990, pelo servo de Deus João Paulo II que o chamou de o “Homem das oito Bem-aventuranças”. Observai estas fotografias. Veja aqui como parecia com o homem das oito Bem-Aventuranças, que leva consigo a graça do Evangelho, da Boa Nova.”

Em sua homilia de beatificação o servo João Paulo II assim se referiu ao jovem: “A fé e a caridade, verdadeiras forças motrizes da sua existência,  tornaram-no ativo e operoso no ambiente em que viveu, na família e na  escola, na universidade e na sociedade; transformaram-no em alegre  entusiasta apóstolo de Cristo, em apaixonado seguidor da sua mensagem e  da sua caridade.”

Pier Giorgio é um extraordinário testemunho para os jovens. É referencia segura para aqueles que querem viver uma vida intensa de amor a Cristo e aos próximos. Seu exemplo deve ficar em nossa mente para que nossos atos possam se nos espelhar dele, que são reflexo evidentes de sua intimidade com Cristo! Tomemos o exemplo dele e faça dê a sua vida um sentido novo. Um sentido feliz que somente o encontro pessoal com Cristo pode nos proporcionar.

 

BIOGRAFIA:

FRASSATI, Luciana. Pier Giorgio Frassati: los días de su vida.  Madrid: BAC Popula, 1996.

 * Nosso colaborador,grande entusiasta de Pier Giorgio Frassati

Pier Giorgio Frassati,um leigo dominicano.

Oratório casa de Eduardo

Domingos Zamagna *

Transcorre em Roma o processo de canonização de um jovem universitário italiano que ainda precisa ser “descoberto” pelos brasileiros: Pier Giorgio Frassati. Na homilia da sua beatificação o Papa João Paulo II disse: “Procurai conhecê-lo!” E, de fato, ele pode ser um irradiante exemplo para a juventude da nossa época.

Pier (Turim, 6/4/1901 – 4/7/1925) foi um modelo de membro moderno do laicato católico. Seria interessante que o prezado leitor, após conhecer a vida desse novo amigo, fosse ler o precioso documento do Papa sobre o laicato, a exortação apostólica pós-sinodal “Christifideles laici” (Sobre a vocação e a missão dos leigos na Igreja e no mundo, de 30/12/1988). Filho do mais jovem senador do Reino da Itália, Alfredo Frassati, embaixador da Itália em Berlim, fundador do prestigioso jornal “La Stampa”, que existe até hoje, Piero cresceu como uma criança privilegiada, tendo herdado mais as qualidades que os defeitos de sua família.

Desde a infância foi surpreendente… Com a idade de 4 anos, quando todas as crianças (conforme antiga tradição de piedade) jogavam pétalas de rosas na imagem da Virgem Maria numa procissão, ele se apodera de uma joia da prima mais velha (uma flor de ouro)… e joga-a na direção do andor… Aos 5 anos, ao ver uma criança sem calçados pedindo esmola na porta de sua casa, tira os seus próprios sapatos e os doa à criança, fechando a porta depressa para ninguém tomar conhecimento do seu gesto.

“Coisas de santo” – alguém poderá dizer –. Seus biógrafos não escondem, contudo, que ele era brigão, quando adolescente, distribuindo sopapos e ponta-pés. Não obstante, ele soube se controlar, dedicando-se intensamente aos esportes (montanhismo e esqui), tornando-se um atleta. Guardou, entretanto, sua ira para os momentos certos, como quando expulsou, aos murros, os fascistas que invadiam uma casa de família pobre em Turim. Várias vezes apanhou – ou bateu – da polícia fascista.

Pelo conhecimento que temos da hagiografia, sabemos que nem todos os santos se lançaram aos estudos como ele, tendo sido aplicado estudante de Engenharia de Minas e Ciências Políticas. Quis ser engenheiro de minas para poder trabalhar com os mineradores, que ele identificou como os “párias da sociedade” de sua época.

Aos 18 anos, rompendo com as tradições burguesas da sua família, passou a dedicar-se aos pobres, integrando-se nas Conferências de São Vicente de Paulo, cuja experiência assim resumiu: “Em torno do doente, do miserável, do infeliz, eu vejo uma luz que não conheço em qualquer outra parte”.

Ainda aos 18 anos, quando entrou para a universidade, tomou contato com a Ordem dos Pregadores (Dominicanos). Estudou o seu carisma e pediu para dela participar como leigo. Decidiu ser leigo para poder estar mais eficazmente junto aos trabalhadores, já que a vida religiosa do início do século XX não lhe facultava esta alternativa. No dia 28 de maio de 1922 Pier recebeu o hábito branco e a capa preta de São Domingos de Gusmão, no Convento de Turim, fazendo profissão religiosa um ano depois. Pediu e recebeu o nome de Frei Jerônimo, em lembrança e imitação do grande Frei Jerônimo Savonarola, cujas obras ele estudou, bem como as de Santa Catarina de Sena e de Santo Tomás de Aquino. Segundo a tradição da espiritualidade dominicana, dedicava especial atenção à reflexão bíblica, à piedade mariana e à recitação do rosário. O Pe. Francesco Robotti, Prior do Convento Dominicano de Turim, assim se expressou sobre o jovem noviço: “Ele me pediu para receber o nome de Frei Jerônimo, porque via no ardente Savonarola um modelo de austera pureza, de busca cristã da democracia e de profundo apostolado religioso e social. Vivendo no mundo, ele queria imitar essas qualidades, especialmente participando das associações católicas da juventude, que, se bem que sob outras formas, certamente seriam apreciadas pelo grande reformador florentino.”

Embora tão jovem, manifestou interesse incomum pelos problemas da paz na Europa; foi atento observador político, e ao mesmo tempo dedicava espaço sempre maior à oração, a ponto de fundar uma associação de ajuda mútua pela oração.

Pier Giorgio Frassati respeitava cada opinião sem jamais impor a sua. Seus colegas universitários o descrevem como justo, reservado, delicado, sabendo em todas as circunstâncias ser um excelente amigo, sereno e objetivo em seus julgamentos, com imensa indulgência para com os outros e grande rigor para consigo mesmo.

Atingido pela doença, nem por isso diminuiu seus esforços em favor dos pobres, especialmente entre os mais miseráveis de Turim. Fragilizado, muito magro, seu corpo não resistiu a uma poliomielite fulminante que o levou à paralisia e à morte em uma semana.

A imensa presença dos pobres em seu funeral constituiu para todos um evidente reconhecimento de sua santidade. Com efeito, no dia 20 de maio de 1990 Pier-Frei Jerônimo foi beatificado pelo Papa João Paulo II.

A herança espiritual da luminosa presença desse jovem universitário pode ser apreciada por esta sua frase, que o coloca ao lado dos grandes místicos do Cristianismo:

“Jesus, tornai-me semelhante ao cristal,

para que vossa luz brilhe através de mim !”

* Domingos Zamagna é jornalista e professor da Escola Dominicana de Teologia-SP

Pier Giorgio Frassati, uma vida que não se apaga.

Alejandro Carvajal*

Pier Giorgio Frassati,(06 de abril de 1901-04 de julho de 1925),estudante.

Nasceu em Torino.Filho do fundador e diretor do jornal italiano La Stampa,foi um jovem absolutmanete normal;gostava de esportes e excursões,e aproveitava o tempo livre para visitar os pobres e doentes

Estudou Engenharia de Minas,e era um líder nato entre seus companheiros.Fácil de palavra e com grande capacidade de convencer,organizou a Federação do Universitários Católicos.Morreu aos vinte e quatro anos de poliomielite.

Foi beatificado por João PauloII em maio de 1990.

Pier Giorgio Frassati hoje nos diz:

“Em torno do doente, do miserável, em torno do desfavorecido, eu posso ver uma luz particular, uma luz que não temos em nós”

“Io posso vedere una luce particolare intorno all’ammalato, al miserabile, intorno al sventurato, si tratta di una luce che non è dentro di noi”.

“I can see a particular light around the sick, around the miserable and around the wretch. It is a light that is not within us”.

“Puedo ver una luz particular en torno al enfermo y al miserable, en torno al desventurado. Es una luz que no está dentro de nosotros”.

“Je vois une lumière particulière autour des malades e des misérables, autour des desfavorisés. C’est une lumière qui n’est pas en nous”.

*Advogado – San Jose – Costa Rica

 

Pier Giorgio Frassati -Uma vida INTEGRAL

pier giorgio frassati

 

Nélio Rodrigues*

Prestemos atenção ao seguinte relato: “Entre os amigos, quantas vezes não aconteceu que, para dissipar com um clarão de alegria a atmosfera pesada de uma palestra, e para fazer rir um colega visivelmente preocupado, puxasse de propósito uma cadeira, suspirasse ou desse uma engraçada modulação à voz para fazer rir e aliviar um pouco os espíritos (…). Gostava das algazarras e aventuras (…). Convidado para cear no seminário, chegou a ter a idéia extravagante de descer ao refeitório e encher de água as xícaras dos seminaristas, virando-as sobre os pires” (P. Marmoiton S. J.). Um olhar superficial sobre esta descrição talvez não revele muito sobre o personagem, ou abra bastante espaço para julgamentos prévios. Talvez um baderneiro, um adolescente que queria a atenção dos seus amigos, etc. Poderia até ser, caso não estivéssemos falando de alguém que está prestes a ser venerado como santo pela Igreja Católica: o bem-aventurado Pier Giorgio Frassati.

Podemos perceber, na figura de Frassati, que os santos estão cada vez mais próximos de nós, da nossa realidade cotidiana. Deus, em sua infinita misericórdia e inclinação às necessidades do homem, suscita, em diferentes épocas e situações, homens e mulheres que respondem de forma coerente e firme ao Seu chamado. São pessoas que, pelo seu “sim”, servem como exemplo para toda uma geração que enfrenta problemas e vivências semelhantes. E é neste ponto que surge o fascínio por um jovem que soube viver e conjugar valores que aos olhos do mundo são antagônicos, mas aos olhos de um cristão católico maduro não só são conciliáveis como fazem parte de uma mesma realidade.

Passaria horas falando sobre cada uma das virtudes de Frassati, mas me atenho a um aspecto que considero como central, que merece ser enfatizado: a sua maturidade, a capacidade de viver uma vida INTEGRAL. Nem se quiséssemos nós conseguiríamos fragmentar sua pessoa em áreas distintas, pois sua maturidade espiritual unia todas elas: religiosidade, sexualidade, afetividade, vida familiar, estudos, amigos, etc. Não escondia seus valores por respeito humano, nem media esforços para temperar com fé toda sua vida. Tudo era vivido de forma única, sem se esconder atrás de um personagem em cada situação; Frassati era um só, onde quer que estivesse! Isto é digno de pessoas maduras, figuras cada vez mais raras…

Sobre maturidade espiritual, Dom Rafael Cifuentes parece se referir ao nosso amigo quando diz que, “assim como a semente tende a desenvolver todas as potencialidades que estão no seu código genético, da mesma maneira a vida da graça, recebida no Batismo, tende à sua plena maturidade. Essa maturidade pode ser chamada de santidade. Santidade e maturidade, neste sentido, são sinônimos. A santidade não é algo extraordinário, mas a conseqüência ordinária do amadurecimento da alma que corresponde à graça do Espírito Santo” (A Maturidade, Editora Quadrante)

Procuremos corresponder à graça do Espírito Santo. Só assim nossa vida será impulsionada à maturidade plena, encontrada somente naqueles que buscam a santidade. E, após este breve escrito, o convite: conheça e torne-se amigo de Pier Giorgio Frassati*. Com certeza ele nos espera para nos levar “Para o Alto”!

 

 

* “…para a vida espiritual é importante ter ao menos um amigo entre os santos, que invocamos e por meio do qual crescemos nessa consciência (da plenitude das relações dos que participam de Cristo). Os santos não são, portanto, simples modelos a serem imitados, coisa que facilmente cairia no moralismo e na despersonalização psicológica. Eles são, sobretudo, uma inspiração espiritual que chega até nós por meio de relações reais, por meio da Igreja, da liturgia… Nesse tecido eclesial, nessa amizade espiritual, podemos dar espaço e corpo à inspiração inicial, enquanto os santos intercedem por nós e de fato nos ajudam”. (Pe. Marco Ivan Rupnik, O Discernimento)

*Jovem advogado,empenhado em diversos grupos de evangelização,grande amigo e devoto de Pier Giorgio

JOÃO PAULO II AOS JOVENS EM TORINO

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS JOVENS NA PRAÇA DE SANTA MARIA AUXILIADORA

Domingo, 13 de Abril de 1980

O segundo nome é o de Pier Giorgio Frassati, que é figura mais próxima do nosso tempo (morreu, de facto, em 1925) e que nos mostra ao vivo o que significa verdadeiramente para um jovem leigo dar uma resposta concreta ao “Vem e segue-me”. Basta passar os olhos, mesmo que rapidamente, pela sua vida gasta no espaço de apenas vinte e quatro, anos, para compreender qual foi a resposta que Pier Giorgio soube dar a Jesus Cristo: a resposta de um jovem “moderno”, aberto aos problemas da cultura, do desporto (um valente alpinista), às questões sociais, aos verdadeiros valores da vida e, ao mesmo tempo, de um homem profundamente crente, nutrido pela mensagem evangélica, de carácter solidíssimo, apaixonado em servir os irmãos e ardendo num fogo de caridade que o levava a aproximar, segundo uma ordem de precedência absoluta, os pobres e os doentes.

2. Porquê, falando-vos agora, quis tomar por exemplo estas duas figuras? Porque elas servem para demonstrar, num certo sentido sob dois lados diferentes, aquilo que é essencial para a visão cristã do homem. Um e outro — Don Bosco como verdadeiro educador cristão e Pier Giorgio como verdadeiro jovem cristão — nos indicam que o que mais conta nessa visão é a pessoa e a sua vocação tal como foi estabeleci da por Deus. Vós já sabeis bem que, da minha parte, é frequente esta chamada de atenção para a pessoa, porque se trata verdadeiramente de um dado fundamental de que nunca se poderá prescindir; e, ao dizer pessoa, não pretendo fazer um discurso de um humanismo autónomo e circunscrito à realidade desta terra. O homem — é bom recordá-lo — tem em si mesmo um valor imenso, mas não o tem por si mesmo porque o recebeu de Deus, por quem foi criado “à sua imagem e semelhança” (Gén 1, 26-27). E não existe, além desta, mais nenhuma adequada definição de homem! Este valor é como um “talento” e, segundo o ensino da conhecida parábola (Mt25, 14-30), deve ser bem administrado, isto é,  este valor de ser homem, de ser pessoa, deve ser administrado de modo que frutifique em abundância. É esta, ó jovens, a visão cristã do homem, a qual, partindo de Deus criador e pai, faz descobrir a pessoa naquilo que é e naquilo que deve ser.

 

[…]E Pier Giorgio: era um jovem de uma alegria comunicativa, uma alegria que superava também as muitas dificuldades da sua vida, porque o período juvenil é sempre um período de provação das forças.

trecho retirado: http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/speeches/1980/april/documents/hf_jp-ii_spe_19800413_torino-giovani_po.html

*Diego Guilherme da Silva-nosso colaborador,amigo e grande entusiasta de Pier Giorgio Frassati.

Reencontro com a fé – Carlo Acutis

 

Sepultura de Carlo Acutis - Assisi

Silvanio Benetti*

Uma canção juvenil dos motoqueiros na Áustria repetia o seguinte refrão: “Não sei para onde vou, por isso chego mais rápido”. A intenção dos aventureiros, que percorrem as estradas montanhosas numa moto, reflete a realidade que o final do século vive: a aventura de viver perigosamente (adrenalina pura), o aproveitamento daquilo que emerge no momento e a despreocupação pelo futuro.

Nossa sociedade está fragmentada, onde já não sabemos com convicção os verdadeiros valores, os próprios meios de comunicação penetram cada vez mais em todos ambientes que lançam suspeitas sobre todas as nossas atitudes, o sagrado perdeu seu lugar.

Dentro desta visão, também surge à pergunta sobre a fé em Jesus Cristo. A realidade existencial do homem moderno, que vive momentos fortes, na alegria e no sofrimento, na surpresa e na decepção, sofreu essa guinada a partir do momento em que a visão de totalidade se relativizou. O sentido da vida deixou de ser buscado nas aspirações profundas do ser humano, no eterno, na transcendência, em favor duma satisfação momentânea, colocando a fé em Deus sob suspeita. A vida tornou-se uma soma de fragmentos desconexos. Vivem-se momentos e situações fortes, sem um horizonte específico. Onde fica a fé? Para o homem atual, Jesus Cristo é apresentado de diversas formas. As opiniões variam entre um Deus que se fez homem, até um mito útil para pessoas frágeis ou um fetiche.

Nesse contexto de perguntas e conceitos amplos, me deparo com a vida simples, porém robusta, de Carlo Acutis. Jovem europeu, residindo em Milão, um gênio dos computadores, amigo de todos e  apaixonado pelas coisas do alto, ele rodeou-se do sagrado e se fez um. Seu amor por Jesus e sua Igreja nos remetem que a fé está á nosso alcance e é possível viver a santidade nos dias de hoje. O cristão tem que aprofundar seus valores e sentir que sua alma clama pelo Criador, nos somos as criaturas em quem o Pai confiou a criação, mas muitos de nós nos deixamos desviar pelo egoísmo do ter, prazer e poder… Carlo entra em minha vida como um novo marco que me chama e renova meu espírito aos braços de Deus (ABBA!!! Pai, papai, papaizinho…).

Meus amigos jovens sempre me complementam com uma frase que diz:…palavras emocionam, mas os exemplos arrastam… Assim, eu indigno, porém caminhante me coloco a caminho tomando o exemplo e a ajuda fiel de Carlo, e com sua graça quero levar junto muitos e muitos outros amigos na minha estrada rumo ao céu.

*Professor Universitário,Mestre em Filosofia.Profundo entusiasta do Servo de Deus,Carlo Acutis. É nosso colaborador.

 

Pier Giorgio Frassati-Uma vida que não se apaga.

Pollone-Quarto de Pier Giorgio

Clementina Luotto, dois dias depois da morte de Pier Giorgio, escreve ao amigo que tinham em comum, Marco Beltramo:

“Marco, é a primeira noite que Pier Giorgio está fora de casa… Ao menos a sua pessoa santa, que ontem eu tive a graça de contemplar em uma luz de beleza e de pureza indivisíveis. Não tenho com quem chorar, e penso em você que em tudo estava mais perto dele do que eu. Diante daquele leito – que me pareceu um altar – eu senti pela primeira vez – com uma emoção que nunca poderei exprimir – que a morte vem do Alto e que para Pier Giorgio foi uma assunção.

Quem poderá apagar da nossa lembrança o seu sorriso, e quem o poderá restituir?

Oh! Juventude maravilhosa que nascia dele e entorno dele e nos desarmava rapidamente, nos deixava tão alegres, tão dispostos a nos elevar, tão livres de qualquer apego mortal… Tão próximo de Deus, que ele parecia ter dentro de si! Quem nos dará outra vez esta alegria purificadora? Quem renovará, não somente sobre nossos olhos, mas em nós, o milagre da santidade alegre, despreocupada e delirante como as fontes alpinas, frescas e restauradoras?

Mas aquela tarde, Marco, a última tarde que nós ficamos juntos, ele já não estava bem. Naquele inverno, na sua roupa de montanha nova, parecia fundido no bronze. Pareceu-me que ele estava abatido, magro, cansado: eu pensei que eram os exames. No verão, porém, ele começava a se destacar de nós: “É pálido Frassati”. [E ele respondia] “Eu preciso de montanha!” Sim, ele precisava sair, para o Alto! E não conosco!

Resplandece a Lua que nós esperávamos ter por companhia durante nossa ascensão; e ele não está mais conosco.

E ele dá força aos seus pobres parentes para viver: dará a nós o amor ativo que devem possuir aqueles a quem concedeu o presente incomparável da sua amizade.

Iremos encontrá-lo juntos?

Eu recordo e choro sozinha, […] e não posso falar a ninguém da minha dor, porque me parece que iria profaná-lo. Somente Laura, Tina, você e Severi sabem o que éramos nós seis e qual era o gênero da nossa comunhão de espírito e de alegria que ele havia criado. Mas ele nos puxava e nós o seguíamos: será que nós saberemos caminhar, agora que estamos sozinhos à prova? Tentaremos, não é verdade? E nos ajudaremos. Por que, antes, Pier Giorgio me ajudará!

Perdoe-me querido Marco, e veja se tenho razão por chamá-lo de irmão. Este fulgor, que envolveu nossas almas tão profundamente, nos dá consciência clara dos nossos sentimentos e dos nossos deveres. Agarrem-nos à cruz e queiramos bem à sua memória, como se mais do que nunca ele estivesse junto a nós. Talvez veremos resplandecer o seu sorriso. Ó bondade, tu és luminosa e mais quente que o Sol, tu és eterna!”

* Está carta escrita no dia 06 de julho de 1925 da nos uma ideia do significado da presença de Pier Giorgio.

Do livro de Luciana Frassati – La Picozza di Pier Giorgio -SEI- 1996