Pier Giorgio e o sentido da vida.

“A generosidade sem medida com que se deu absolutamente todo aos outros – não apenas ”se lhes emprestando” – era o fruto de um processo de um profundo amadurecimento interior que ele,vivendo em Seus e avaliando tudo Nele,alcançara rapidamente:isto é, Pier Giorgio havia compreendido que o homem se realiza, santificando –se,somente na medida em que se abre ao dom.”

Carla Casalegno – escritora

Santo Padre propõe beato Pier Giorgio Frassati como modelo para os atletas

Alpinista

Cidade do Vaticano (Segunda-feira, 17-12-2012, Gaudium Press) Uma cultura esportiva deve ser baseada sempre na superioridade humana, “um esporte a serviço do homem e não o homem a serviço do esporte”, ressaltou o Santo Padre na audiência privada a uma delegação do Comitê Olímpico Nacional Italiano, recebido esta manhã na Sala Clementina do Palácio Apostólico no Vaticano.

“O desafio então não diz respeito somente às regras, mas à visão do homem” que “tem necessidade de educação, de espiritualidade e de valores transcendentes”. O esporte é um “bem educativo”, que ajuda o homem a “compreender o valor profundo da vida”. Este é o motivo pelo qual “a Igreja se interessa pelo esporte”, destacou o Santo Padre no discurso.

Aos atletas, o Santo Padre dirigiu um convite apara serem “campeões-testemunhas” e para viver plenamente a experiência esportiva com a missão de se tornarem “modelos válidos de imitação”. Aos treinadores e aos trabalhadores do esporte, pediu para darem um testemunho de boa humanidade.

“A pressão para alcançar bons resultados – ressaltou o Papa – não deve nunca estimular a entrada em armadilhas, como ocorre no caso do “dopping”. O mesmo espírito de equipe deve servir tanto como incentivo para que se evite a escolha deste caminho, quanto para ajudar a quem reconhece seu erro, de modo que se sinta acolhido e ajudado”.

Bento XVI fez um convite para que se viva o Ano da Fé com “espírito de competição espiritual”, o que significa “viver cada dia em busca da vitória do bem contra o mal, da verdade sobre a mentira, do amor sobre o ódio, e tudo isso acima de tudo em si mesmo”.

“Pensando ainda no empenho da nova evangelização – continuou – o mundo do esporte também pode ser considerado um moderno “espaço dos gentios”, isto é, uma oportunidade preciosa de encontro aberto a todos, fieis e não fieis, onde se possa experimentar a alegria e também as dificuldades de confrontar-se com pessoas diversas, de diferentes culturas, línguas e orientações religiosas”.

Ao final do discurso, o Santo Padre propôs a figura do Beato Giorgio Frassati, um apaixonado pelo esporte e por Deus, como modelo a ser seguido pelos atletas.(AA/JS)

Pier Giorgio Frassati e a amizade.

ier Giorgio com chapeú de papel .

“Infelizmente uma por uma das amizades terrenas produzem dores no nosso coração pelo afastamento.Por isso,gostaria que fizessemos um pacto indestrutível que não conhece limites temporais: A aliança na oração”. Pier Giorgio Frassati

 

Pier Giorgio Frassati,na lembrança de uma amiga.

 

Clementina Luotto, dois dias depois da morte de Pier Giorgio, escreve ao amigo que tinham em comum, Marco Beltramo*:

“Marco, é a primeira noite que Pier Giorgio está fora de casa… Ao menos a sua pessoa santa, que ontem eu tive a graça de contemplar em uma luz de beleza e de pureza indivisíveis. Não tenho com quem chorar, e penso em você que em tudo estava mais perto dele do que eu. Diante daquele leito – que me pareceu um altar – eu senti pela primeira vez – com uma emoção que nunca poderei exprimir – que a morte vem do Alto e que para Pier Giorgio foi uma assunção.

Quem poderá apagar da nossa lembrança o seu sorriso, e quem o poderá restituir?

Oh! Juventude maravilhosa que nascia dele e entorno dele e nos desarmava rapidamente, nos deixava tão alegres, tão dispostos a nos elevar, tão livres de qualquer apego mortal… Tão próximo de Deus, que ele parecia ter dentro de si! Quem nos dará outra vez esta alegria purificadora? Quem renovará, não somente sobre nossos olhos, mas em nós, o milagre da santidade alegre, despreocupada e delirante como as fontes alpinas, frescas e restauradoras?

Mas aquela tarde, Marco, a última tarde que nós ficamos juntos, ele já não estava bem. Naquele inverno, na sua roupa de montanha nova, parecia fundido no bronze. Pareceu-me que ele estava abatido, magro, cansado: eu pensei que eram os exames. No verão, porém, ele começava a se destacar de nós: “É pálido Frassati”. [E ele respondia] “Eu preciso de montanha!” Sim, ele precisava sair, para o Alto! E não conosco!

Resplandece a Lua que nós esperávamos ter por companhia durante nossa ascensão; e ele não está mais conosco.

E ele dá força aos seus pobres parentes para viver: dará a nós o amor ativo que devem possuir aqueles a quem concedeu o presente incomparável da sua amizade.

Iremos encontrá-lo juntos?

Eu recordo e choro sozinha, […] e não posso falar a ninguém da minha dor, porque me parece que iria profaná-lo. Somente Laura, Tina, você e Severi sabem o que éramos nós seis e qual era o gênero da nossa comunhão de espírito e de alegria que ele havia criado. Mas ele nos puxava e nós o seguíamos: será que nós saberemos caminhar, agora que estamos sozinhos à prova? Tentaremos, não é verdade? E nos ajudaremos. Por que, antes, Pier Giorgio me ajudará!

Perdoe-me querido Marco, e veja se tenho razão por chamá-lo de irmão. Este fulgor, que envolveu nossas almas tão profundamente, nos dá consciência clara dos nossos sentimentos e dos nossos deveres. Agarrem-nos à cruz e queiramos bem à sua memória, como se mais do que nunca ele estivesse junto a nós. Talvez veremos resplandecer o seu sorriso. Ó bondade, tu és luminosa e mais quente que o Sol, tu és eterna!”

*Clementina Loutto foi amiga de Pier Giorgio junto com Marco Beltramo Ceppe.

Pier Giorgio Frassati e a profecia do leigo.

Casa de Pollone -Italia
Casa de Pollone -Italia

Giovanni Trovati

 

Na vida de Pier Giorgio Frassati podemos ver três momentos coligados pela dedicação ao próximo. A amizade pelos pobres “de meios” é o que mais se realça. Rico de família, mas pessoalmente com dinheiro limitado, porque em casa eram muito parcimoniosos, visitava as famílias que sabia estarem em condições de necessidade e dava o que tinha e mais, economizando até na passagem do ônibus ou pedindo emprestado aos amigos. Mais do que doar, se doava, para cumprir uma obra de evangelização, da qual naturalmente saia evangelizado.

A fé impõe amar a Deus, amar Deus implica que “seja feita a Sua vontade”, e esta nos remete a repartir com os outros. Por sua vez, o amor pelo próximo predispõe o ânimo a compreender o mistério da fé. É um círculo que envolve o eu, Deus, os outros. Não se vive sozinho e não nos salvamos sozinhos.

Um segundo momento da vida de Pier Giorgio Frassati, consequência do primeiro, é o propósito de trabalhar na Alsacia, uma vez conseguido o diploma de engenharia, para estar com os alemães que tinham ficado sob o jugo da França após a primeira guerra mundial e que sofriam na condição de vencidos. Também esses considerava pobres. Para testemunhar sua participação, estava pronto a deixar todo privilégio na Itália. O pai pretendia prepará-lo para a sucessão no comando do “La Stampa”: teria conseguido o lugar seguramente, de grande prestígio e remuneração e a carreira fácil que o teria colocado entre aqueles que contavam e formavam opinião. Se suas visitas às famílias necessitadas lhe traziam incompreensão, a notícia de ir trabalhar ao Deus dará, fora da pátria, ao lado daqueles que sofriam uma injustiça, o colocou em confronto com os pais. Fazer o bem sempre tem um pedaço de sofrimento e ele estava convencido que quem vê o bem e o renuncia é um desertor.

O terceiro momento, que pretendo realçar, é político. Se posicionou contra o fascismo em sua formação e sua afirmação, porque o considerava uma ofensa à religião e à dignidade humana. E se rebelou sempre, publicamente, aos gestos de obsequio que vinham também de setores católicos. Via no fascismo o abuso, e coerentemente se posicionava com aqueles que eram privados da liberdade: também esses eram pobres.

Pier Giorgio Frassati era o leigo que acompanhava o sacerdote onde o sacerdote é presente e penetra lá onde o sacerdote é ausente. “Em tantas famílias, em tantos lugares de trabalho, apenas o leigo pode acender o fogo que Cristo trouxe sobre a Terra” afirmou padre Carré após a grande prova do ultimo conflito numa pregação quaresmal em Notre Dame. Para dar testemunho do Evangelho são necessárias a santidade interior e o culto sacramental. O jovem Frassati se preocupava com uma e outro. Se dá o que se tem, e se tem o que através da oração se obtém de Deus.

Amava os pobres, ajudava-os na promoção humana impulsionado pela carga revolucionária da caridade. Muda-se o mundo mudando-se o homem: a revolução que impõe novas estruturas através da violência opera uma mudança ilusória que leva sempre à ditadura, à opressão. Sempre foi assim no passar dos séculos, assim constatamos com a revolução de outubro.

O cristão é um revolucionário porque quer mudar o mundo começando pelo seu próximo: obra cansativa, difícil, de êxito imprevisível. Escrevia padre Guardini mais ou menos ao mesmo tempo que Pier Giorgio: “O que pode convencer o homem moderno não é um cristianismo histórico ou psíquico, mesmo que modernizado, mas apenas a mensagem plena, total, não partida, da revelação”. O Vaticano II quarenta anos depois relacionou a vocação e a missão do leigo com a vocação e a missão da Igreja.” Esse povo – lê-se na Lumen Gentium – tem por lei o preceito de amar como o próprio Cristo nos amou”. Ou seja, sem medida. Ao amor se dá o máximo. A semente de memória evangélica morre para dar fruto e morre sob a terra, escondida, porque o bem feito para ser conhecido traz em si a grande limitação de não ser desinteressado. Uma definição do professor Lazzati nos ajuda a entender quem é o leigo: é um homem batizado que participa da vocação geral que pertence a todos, a santidade. A santidade pressupõe uma busca continua de Deus na humanidade.

Assim se compreende o conceito de caridade que São Paulo exalta como primeira virtude: significa participar da vida do outros, nos muitos sofrimentos e nas poucas alegrias. O leigo toma nas mãos sua própria existência e a dos outros, no colóquio continuo com o autor da vida e na imersão no mundo. É a testemunha de uma difícil fé e com sua obra pode colocar em crise benéfica aos outros. Padre Congar escreveu que é um homem que sabe que o mundo existe. Frase que sinteticamente resume o que afirmava o autor desconhecido da Carta a Diogneto nos alvores do cristianismo: “Os cristãos não podem se separar da sociedade devido à universalidade da fé que professam, mas também não se identificam com ela. Sua função consiste em inserir-se na história dos homens, em respeitá-la, em colher dela o que é positivo, no ser fermento ativo, conscientes que também os valores seculares, para darem frutos, devem passar pela cruz”.

Pier Giorgio Frassati experimentou o quanto custa carregar a cruz, em cansaço e em escárnio – porque a cruz continua a ser bobagem para o mundo – mas foi consciente que a verdadeira alegria vem do compreender e auxiliar os outros. Sua vida nos aparece como um sofrimento glorioso, próprio do santos.

Turim, 21 de setembro de 1988

* Giovanni Trovati foi vice diretor e jornalista do La Stampa.

Frassati, o «santo» polêmico .

Pier Giorgio Frassati

Frassati, o «santo» polêmico Pier Giorgio foi um modelo de caridade silenciosa ou de militância política? Frassati, o «santo» polêmico entre Comunhão e Iibertação  e Ação Católica, Pier Giorgio Frassati: Após a beatificação todos o descobrem à sua própria maneira. Descobrem-no à sua própria maneira, sobretudo as associações católicas nas quais o jovem estudante militou, indicando uma nova forma de fazer ativismo, concebido com forte antecipação sobre a dinâmica social, como «serviço». E é precisamente esta noção de serviço, repetido até a banalização de toda tribuna secular e menos secular, que têm chegado mesmo a confundir hoje, algumas idéias e muitas consciências. Descobrem-no por subtração, no sentido de que cada um se apossa da parte mais próxima ao Pier Giorgio Frassati, sem chegar a imaginá-lo como síntese significativa para todos. Então, qual modelo? O espiritual, da caridade silenciosa ou da militância política? Comunhão e Libertação enfatizando no compromisso espiritual e eclesial. Don Primo Soldi, líder em Turim do movimento, mostra a assiduidade respeito aos sacramentos e «o amor ardente de Cristo e da Igreja e uma afeição pelo Papa» exaltando uma maneira de viver e uma ideologia dirigida para «os jovens que irão construir a Europa do terceiro milênio»: a ideologia (ou o ideal) que se opõe ao materialismo. («Mantende a coragem de procurar a verdade e o sentido da vida para além dos limites que o materialismo, quer como ideologia, quer como prática de uma vida consumista, deseja impor»: mensagem do Santo Padre João Paulo II em Praga). Giampiero Leo, cujo guia espiritual é Dom Soldi, considera a Frassati como a referência na qual o político deve se inspirar. Recorda que Pier Giorgio «integralmente católico» também estava inscrito no Partido Popular: «Um compromisso cristão autêntico é o único caminho que pode levar à restauração da vida política». A descoberta de um Pier Giorgio Frassati que faz política, que não se submete aos compromissos, é outro motivo de reflexão assim como de surpresa. Beppe Gero, encarregado da “S. Vicente” de Turim diz: «O que pode nos ensinar Frassati? A profunda interioridade do seu ser cristão; e também o desapego das coisas, do dinheiro. Se não aprendermos a partilhar  nos tornariamos loucos. E finalmente a sua participação nos assuntos públicos, na política. Nós como S. Vicente, mesmo fazendo um grande trabalho, temos medo de fazer-nos conhecer; a nossa respeitabilidade, em geral, nos proíbe de adotarmos uma postura e não haveria muitas coisas a dizer claramente. «Nesse sentido, Frassati pode nos ajudar a termos mais coragem» E a Acção Católica? Davide Fiammengo presidente diocesano, expressa o seguinte: «Frassati traz também em primeiro plano, o valor da laicidade: tornou-se santo mesmo através da sua laicidade. Vale a pena notar também o testemunho deste jovem na vida pública: tem nos ensinado que devemos nos esforçar por servir, não por anseio de poder. «Um belo exemplo para aqueles que mexem na política». E Stefano Vanzini que na Acção Católica é encarregado regional dos rapazes: «Um jovem, um laico, um santo: um referente para aqueles que como nós, pensam em construírem uma sociedade diversa, trabalhando em torno de projetos concretos». Há uma esperança indubitável além das declarações, resumida assim: que o exemplo de Pier Giorgio Frassati estimule uma reflexão especialmente na juventude de Turim. A solenidade e a propagação do evento, a proliferação de iniciativas para fazer conhecer a vida e virtudes do jovem estudante laico e santo que têm como objetivo não primordial, mas tampouco recôndito, o renascimento dessas associações que eram o sal da Igreja. A Acção Católica tem três mil ativistas (dos quais 1700 são adultos), mas está presente em apenas cerca de oitenta paróquias de 376 que tem a Diocese. A S. Vicente começa a ver jovens nos próprios grupos. («Eu contei 93, parece pouco, mas antes não havia nenhum» diz Gero). Comunhão e Libertação é sem dúvidas, o movimento mais ativo. Giampiero Leo que conhece o planeta-jovem por experiência como assessor do “Comune” é otimista: «Finalmente têm descoberto o fenômeno associativo. Não o político que recusam. Também os católicos estão se comprometendo com propostas fortes de compromisso civil e cultural. É muito respeito ao pouco de antes, mas para cobrir as necessidades da sociedade de Turim faria falta multiplicar por mil: Estamos longe de um acabamento perfeito. Pier Paolo Benedetto Pier Giorgio Frassati será também a ocasião de relançamento para as associações juvenis católicas? »

Página 3

(23.05.1990) La Stampa – numero 117

Dr Alejandro Carvajal -San José -Costa Rica

Pier Giorgio Frassati e a devoção a Nossa Senhora.

Santúario de Oropo

Frei Alessandro Rosso, o.f.m. cap.

Pier Giorgio Frassati, desde a primeira juventude, teve uma adesão humilde e forte à fé recebida em germe no santo Batismo, alimentada pela educação cristã recebida na família e, sobretudo, pelos sacerdotes que o prepararam para os sacramentos da iniciação cristã. E esta adesão foi, pouco a pouco, crescendo com o estudo do catecismo e do Evangelho, com a oração assídua e uma profunda devoção eucarística e mariana.

1 – A fé, fundamento da vida espiritual do Beato

Sua fé era plena, forte, alegre e operosa. E, desta fé, provinha a sua caridade multiforme e o zelo para conduzir outros – fossem amigos ou pobres assistidos – para o amor do Senhor.
É importante, para compreender como a fé era realmente o fundamento da vida espiritual de Pier Giorgio, transcrever três trechos das cartas dirigidas ao amigo Isidoro Bonini, que remontam aos últimos meses de sua vida e que são citadas no volume: Lettere di Pier Giorgio Frassati (“Cartas de Pier Giorgio Frassati”), Queriniana, 1950.

15 de janeiro de 1925
“… De tempos em tempos, me pergunto: continuarei buscando seguir o bom caminho? Terei a ventura de perseverar até o fim? Em meio a este tremendo embate diante das dúvidas, a fé que me foi dada no Batismo me aconselha com voz segura: ‘Por si mesmo, você não fará nada, mas se tiver a Deus como centro de todas as suas ações, então, sim: você chegará ao fim’. É justamente isso que gostaria de poder fazer e tomar como lema o dito de Santo Agostinho: ‘Ó Senhor, inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em ti’…” (o.c. p. 192).

29 de janeiro de 1925
“… Terei a força para chegar? Sem dúvida, a fé é a única âncora de salvação e é preciso agarrar-se fortemente a ela. Que seria toda a nossa vida sem ela? Nada, ou melhor: seria consumida inutilmente, pois, no mundo, só há dor e a dor sem a fé é insuportável, enquanto que a dor alimentada  pela pequena chama da fé se torna algo de belo porque robustece a alma para a luta…” (o.c. p. 194).

27 de fevereiro de 1925
“… pobres infelizes aqueles que não têm fé! Viver sem uma fé, sem um patrimônio a ser defendido, sem sustentar, numa luta contínua, a verdade não é viver, mas é ir vivendo. Nós nunca devemos ir vivendo, porque, também através de qualquer desilusão, devemos nos lembrar de que somos os únicos que possuímos a verdade; temos uma fé a sustentar, uma esperança a atingir: a nossa Pátria. E, por isso, expulso qualquer tristeza, que só pode existir quando se perde a fé…” (o.c. p. 196).

Alimento de sua fé e de sua multiforme caridade foi, sem dúvida, a sua piedade eucarística; mas, fundamento e guia foi a sua devoção à Nossa Senhora, à sua Mamãe do céu. Era o que recordava, em uma de suas conferências, o amigo Marco Beltrano Ceppi, depois anexada ao Processo Apostólico (Summ, p. 296).
“Se vocês me perguntassem qual era o meio seguro sobre o qual ele se apoiava para realizar uma assim constante obra-prima de vida intimamente unida a Deus, eu não hesito em lhes responder que o segredo da perfeição espiritual de Pier Giorgio deve ser buscado, de modo especial, na sua assídua, sincera profunda e terníssima devoção à Virgem Maria. Nós todos, que vivemos alguns anos próximos a Pier Giorgio, não podemos separar sua lembrança da lembrança de seu amor filial à Maria”.
O Padre Karl Rahner, sj, que conheceu Pier Giorgio na década de 20, na Alemanha, num testemunho narrado pela irmã Luciana Frassati, no livro Mio fratello Pier Giorgio. LA FEDE (“Meu irmão Pier Giorgio. A FÉ”), escreve:
“Na época, Pier Giorgio tinha vinte anos. Uma de suas paixões era Dante… E o trecho que repetia, sempre com entusiasmo e de memória, era a oração de São Bernardo à Mãe de Deus: ‘Virgem Mãe, filha do teu Filho’. Pier Giorgio, que sentia um profundo amor por sua mãe, era naturalmente levado a venerar, com ternura indizível, a outra Mãe do céu…” (p. 199). “Em Freiburg, eu me admirava quando o via rezando, em voz alta, o terço no seu quarto. Então, não podia compreender muito bem: um jovem do nosso tempo, antes que amar verdadeiramente o rosário, deve possuir uma bela piedade” (p. 229).

2 – A devoção à Nossa Senhora

A irmã Luciana, no Processo Apostólico, depôs assim sobre a devoção de Pier Giorgio à Nossa Senhora, verdadeira luz e apoio no seu caminho de fé:
“Pier Giorgio teve uma devoção instintiva, que foi crescendo sempre mais com o passar dos anos, à grande Mãe, a Virgem Maria. Ele sentia todo o seu fascínio… As flores eram sua homenagem mais calorosa e mais evidente. Em toda lugar em que a Virgem seria festejada, lá aparecia Pier Giorgio com o seu ramalhete – às vezes, enorme…”.
Ela também recorda que Pier Giorgio logo criou o hábito de ir em peregrinação aos Santuários Marianos. Os dois preferidos no Piemonte eram os de Oropa e da Consolata. Em Turim, o de Maria Auxiliadora. Muitos sacerdotes e amigos sublinham o mesmo fato.
Em 1918, pediu e obteve, freqüentando o “sociale” de Turim dos padres jesuítas, a inscrição na Congregação Mariana, consagrando-se, assim, de modo especial à Santíssima Virgem.
A propósito da devoção à Nossa Senhora Negra de Oropa, o Reverendo Padre Cesário Borla relembrava no Processo Informativo: “Ficou-me impresso na alma a lembrança do gozo e da alegria com que tomou parte nas festas para a coroação de Nossa Senhora de Oropa, que se deu pelas mãos do Legado Pontifício, S. Ex.a Cardeal Valfré di Bonzo (28 de agosto de 1920). Depois de ter assistido a mais de uma Missa e de ter comungado, dedicou-se inteiramente a ajudar os organizadores dos festejos tanto quanto podia. Passou o dia inteiro no Santuário, do qual só saiu quando a noite descia sobre o vale… Nunca ia a Pollone sem ir visitar o Santuário de Oropa, para onde se dirigia, muitas vezes a pé, fazendo uma peregrinação de cerca de duas horas” (Summ. Introd. Causae, p. 161s).
A irmã Luciana ainda relembra que, se o dia de Pier Giorgio começava com a Missa e a Comunhão, prosseguia, como é próprio de um bom terceiro dominicano, com a recitação do Ofício de Nossa Senhora e terminava sempre com a reza do santo terço, estivesse ele em casa ou no refúgio da montanha.
Podia, às vezes, acontecer-lhe, tomado pelo cansaço, de dormir durante a recitação. Numa tarde, coincidiu que o pai o achou adormecido com o terço na mão. Encontrando-se com o pároco, de quem era amigo, assim se expressou: “Mas, o que senhores fizeram do meu filho? Imagine que o encontrei na cama, adormecido com o terço na mão!”
Respondeu o piedoso e prudente sacerdote: “E o senhor preferiria, Senador, que ele dormisse com algum namorisco por perto?”. “Ah! Isto não!”.
“Então, deixe-o continuar com seu estimado costume. Certamente, não terá que se arrepender disso!”.
Cultivava no jardim da casa de Pollone plantas de coyx lacryma e levava os grãos para as Irmãs Franciscanas Angelinas, a fim de que fizessem terços que ele se alegrava em dar aos amigos para estimulá-los a esta oração.

3 – De joelhos no Santuário de Loreto

Entre os Santuários Marianos que ele visitou está também o Santuário de Loreto, que guarda a santa Casa de Nazaré, onde Maria Santíssima recebeu o anúncio da Encarnação do Verbo de Deus e onde disse o seu SIM.
Luciana Frassati lembra que o fato se deu no final de agosto ou em 1º de setembro, antes de ir a Assis (2-5 de setembro de 1919). Eis como o relata em seu livro Mio fratello Pier Giorgio. LA FEDE :
“Em Loreto, por exemplo, certa manhã, não o encontramos mais no hotel. Começamos a procurá-lo por toda parte e acabamos por encontrá-lo já na igreja, sozinho, ajoelhado sobre o frio degrau do altar.
Tinha sentido uma atração tão forte pela casa de Nossa Senhora, a ponto de não suportar mais ficar na cama e num quarto como nós” (p. 213).
Sobre esta visita à casa de Nossa Senhora, fala também o Padre Robert Claude, sj, no seu livro: Frassati parmi nous (“Frassati entre nós”):
“Certa manhã, em Loreto, seu companheiro de quarto que o busca em vão, acaba por encontrá-lo na basílica, ajoelhado junto ao altar-mor, como que a fazer – assim parece – sua ação de graças. Quis se aproximar dele, mas algo o reprimiu, uma emoção o deteve: ‘Não saberia dizer o que aconteceu comigo naquele momento. Eu o senti tão magnânimo e tão acima de mim…’” (p. 15).
De sua oração humilde e insistente e de uma meditação dos mistérios do santo rosário e dos exemplos da Santíssima Virgem, ele hauriu o impulso não só para uma ascensão rumo à santidade, mas também para um zelo apostólico intenso.
Estava inscrito na Obra da Propagação da Fé, desde os primeiros anos da juventude, e se empenhava a dar a conhecer aos amigos a verdade da fé.
Seu companheiro e depois sacerdote Padre Giovanni Bertini depôs no Processo Apostólico:
“O espírito de apostolado era vivo nele. Aproximava-se de muitas pessoas, especialmente dos colegas universitários, aos quais levava sempre uma palavra de fé e de esperança, com muita doçura e amabilidade, sem assumir ares de quem quer se fazer de mestre, mas, no entanto, com muita firmeza”.
Em agosto de 1923, o tio Pietro Frassati que, embora honesto, sempre se recusara a seguir as práticas da fé cristã, estava agonizando.  Pier Giorgio precipitou-se para junto dele e conseguiu persuadi-lo a receber a visita do sacerdote e, em seguida, com lágrimas nos olhos, também os santos sacramentos. Escreveu sobre isso ao amigo Antonio Severi, aos 20 de agosto de 1923, comentando o fato com estas palavras de humildade e orgulho cristão:
“Deus, certamente na sua infinita misericórdia, não levou em conta meus inumeráveis pecados, mas escutou minhas orações e aquelas de minha família, e concedeu ao tio a grande graça de receber com plena consciência os últimos Sacramentos.
Creio que esta vida deve ser uma preparação contínua para a outra, porque nunca se sabe o dia, nem a hora da nossa morte” (Lettere o.c., p. 178).
Não há palavras mais apropriadas para encerrar estas reflexões sobre a devoção à Nossa Senhora, inspiradora e guia do Beato Pier Giorgio Frassati numa vida de fé e de zelo apostólico, do que aquelas pronunciadas por João Paulo II no Angelus de 20 de maio de 1990, dia de sua solene beatificação:
“Caros jovens, convido-os a imitar o exemplo de novo Beato. Saibam, também vocês, se recolherem muitas vezes na oração e na meditação ao lado da Mãe do Redentor, para fortalecer a fé e para inspirar, no modelo de vida de Maria Santíssima, o seu serviço a Cristo e à Igreja. Assim, vocês saberão se empenhar com entusiasmo e alegria na nova evangelização, para encontrar as soluções que respondem às exigências da vida espiritual e civil deste nosso tempo”.

Fraternidade Frassati:Pier Giorgio continua unindo seus amigos.

Fraternidade Frassati
Fraternidade Frassati

 

Para nós, jovens Católicos, que caminhamos em direção ao comprometimento com Cristo, que fazemos da caridade a prática do exercício de comungar e meditar a Palavra de Deus e por fim, que vivemos uma fé baseada no contemporâneo onde faculdade, trabalho, igreja, família, academia, etc, fazem parte desta rotina, PIER GIORGIO FRASSATI, é alguém que conhecemos, mas temos a sensação que é amigo há tempos.

 

A identificação plena com a vida de Pier Giorgio, seguida de uma confirmação de Adriano Gonçalves (apresentador do programa “Revolucão Jesus” TV Canção Nova) foram ‘SINAIS’, onde Deus mostrava que queria algo de nós e algo “sem fronteiras”.

Atentos aos acontecimentos e, principalmente, abertos à vontade de Deus, fomos conduzidos a vivenciar a experiência da ‘Multiplicação dos pães’, pois caminhavamos em um grupo já formado e esse grupo seria dividido, a fim de que novas pessoas e um novo local fosse atingido.

 

Este passo gerou a FRATERNIDADE FRASSATI.

Nesse novo tempo, buscamos vivenciar o Evangelho de Cristo, nos contextos sociais que acercam o homem moderno e principalmente, traduzir com a caridade os ensinamentos da Sagrada Escritura.

 

Uma das cartas de Pier Giorgio, nos passa as ferramentas que devem ser utilizadas para que seja concretizado entre nós, jovens católicos, esta vontade de Deus: “Oração contínua para obter de Deus a graça, sem a qual as nossas forças são vãs;

Organização e Disciplina, para estamos prontos para a ação no momento oportuno.”

Todo esse contexto, sem deixar de lado, a Alegria, que é sinônimo de juventude, Pier Giorgio também nos ensina:

“-Você me pergunta se estou alegre. E como poderia não estar? Enquanto a fé me der forças, eu estarei sempre alegre! O católico tem que ser alegre! A tristeza deve ser erradicada da alma do católico! A dor é diferente da tristeza, que é a mais detestável de todas as doenças. Esta doença é quase sempre produto do ateísmo; porém, a finalidade para a qual nós fomos criados nos mostra o caminho que, mesmo com muitos espinhos, não é de nenhum modo triste. É um caminho alegre, mesmo através da dor”.”

 

A alma peregrina de Pier Giorgio foi uma das coisas que mais nos encantou! Sua paixão pela natureza e seu espírito de contemplação é para nós fonte de inspiração, além disto, seu gosto pelos esportes nos impulsiona a viver uma vida mais saudável e uma fé mais equilibrada. Não pode-se deixar de ressaltar seus estudos, onde teve  por decisão, a opção por estudar algo que lhe daria condição de ajudar o próximo. Sua aptidão e disposição em ajudar os mais necessitados e defender as causas sociais, sua decisão em renunciar aos benefícios que o dinheiro podia lhe trazer, enfim, com seu testemunho, ele nos impulsiona a olhar diferente  este mundo e nos tras a certeza de que é possível caminharmos rumo à santidade, é possível a busca contínua por sermos: “Santos de Calça Jeans”.

 

Não é difícil compreender Pier Giorgio, pois a realidade vivenciada por ele, envolve a realidade do um jovem Católico de hoje. São por estas e outras tantas razões que levamos adiante este nome, pois na fé, estamos certos que o nosso lugar não é aqui! Mas que temos muito a fazer neste local!

 

ESTAMOS JUNTOS=>VERSO L’ALTO!

FRASSATI É SETA!

JESUS É META!

Nos fala Pier Giorgio Frassati.

Pier Giorgio Frassati
Pier Giorgio Frassati

“Nós – que por graça de Deus, somos católicos-
não devemos gastar os anos mais belos da nossa vida
como desgraçadamente fazem tantos jovens infelizes
que se preocupam com gozar os bens terrenos e não produzem
nada de bom, mas que apenas fazem frutificar a imoralidade
da nossa sociedade moderna. Devemos treinar-nos, a fim de
estarmos prontos para travar as lutas que, seguramente,
teremos de combater pela realização do nosso programa
e para, assim darmos à nossa pátria, num futuro não
muito longínquo, dias mais alegres e uma sociedade moralmente
sã. Mas para tudo isto, é preciso: oração contínua para obter
de Deus a graça sem a qual as nossas forças são vãs;
organização e disciplina para estarmos prontos para a ação
no momento oportuno e, finalmente, o sacríficio das nossas
paixões e de nós mesmos, porque sem isso não se pode
atingir o objetivo!”

Mensagem de Bento XVI para a Jornada Mundial da Juventude

Nélio Povoa em oração diante das relíquias de Pier Giorgio

“Que devo fazer para alcançar a vida eterna?”. Essa questão do jovem do Evangelho parece distante das preocupações de muitos jovens contemporâneos, porque, como observava o meu Predecessor, “não somos nós a geração a que o mundo e o progresso temporal enchem completamente o horizonte da existência?” (Carta Apostólica aos jovens Dilecti Amici, n. 5). Mas a pergunta sobre a “vida eterna” surge em particulares momentos dolorosos da existência, quando vivenciamos a perda de alguém próximo ou quando vivemos a experiência do fracasso.

Mas o que é “vida eterna”, a que se refere o jovem rico? Jesus a ilustra quando, voltando-se a seus discípulos, afirma: “Hei de ver-vos outra vez, e o vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará a vossa alegria” (Jo 16, 22). São palavras que indicam uma proposta exaltante de felicidade sem fim, da alegria de ser preenchido pelo amor divino para sempre.

Interrogar-se sobre o futuro definitivo que aguarda a cada um de nós dá sentido pleno à existência, porque orienta o projeto de vida rumo a horizontes não limitados e passageiros, mas amplos e profundos, que levam a amar o mundo, tão amado por Deus mesmo, a dedicar-nos ao seu desenvolvimento, mas sempre com a liberdade e a alegria que nasce da fé e da esperança. São horizontes que ajudam a não absolutizar a realidade terrena, sentindo que Deus nos prepara um perspectiva mais ampla, e a repetir com Santo Agostinho: “Desejamos a pátria celeste, suspiramos pela pátria celeste, nos sentimos peregrinos aqui na terra” (Comentário ao Evangelho de São João, Homilia 35, 9). Mantendo os olhos fixos na vida eterna, o Beato Pier Giorgio Frassati, que morreu em 1925, com 24 anos, disse: “Desejo viver e não subsistir!”, e sobre a foto de uma escada, enviada a um amigo, escreveu: “Para o alto”, aludindo à perfeição cristã, mas também à vida eterna.

Queridos jovens, exorto-vos a não esquecer essa perspectiva em vosso projeto de vida: somos chamados à eternidade. Deus nos criou para estar com Ele, para sempre. Isso vos ajudará a dar sentido pleno às vossas escolhas e a agregar qualidade à vossa existência.