De 1932 até hoje: a história do longo e árduo caminho da causa de beatificação reconstruída através de documentos, testemunhos e atos oficiais
Pier Giorgio Frassati, beato. A Igreja o indica como modelo de vida cristã. Faz isso oficialmente, a 65 anos de sua morte. Antes de colocar alguém sobre os altares, a Igreja cumpre acuradas pesquisas, exigindo, como confirmação divina do julgamento humano, as provas de um ou mais milagres. Em resumo, procede com pés de chumbo: um justo exercício de prudência. As pessoas, porém, querem os caminhos mais curtos. A fama de santidade de Pier Giorgio desabrocha no próprio dia de seus funerais, 6 de julho de 1925, em Torino. A respeito anota sua irmã, Luciana Frassati: “A rua, eram 9 da manhã, quase não continha as milhares de pessoas que acorriam de todos os lados da cidade. Aos muitos que já se tinham alternado pelos quartos de casa e que quiseram misturar suas lágrimas às nossas, se juntava agora a maré incontrolável de uma turba de desconhecidos, velhos e jovens, pobres e ricos.” A turba à qual se refere Luciana Frassati tem o semblante dos amigos de Pier Giorgio; dos indigentes que ele conheceu em sótãos insalubres, ajudando-os; tem a memória de quantos lembram sua caridade nutrida de fé pura.
Em 2 de julho, o então arcebispo de Torino, cardeal Maurílio Fossati, abre o processo informativo ordinário. Até 23 de outubro de 1935, em 232 sessões, são ouvidas 25 testemunhas (mas não sua irmã, inexplicavelmente), em parte convocadas pelo postulador da causa, o salesiano D. Francesco Tomasetti e em parte pelo Tribunal eclesiástico, chamado a cuidar do “caso pier Giorgio”. O material coletado foi enviado para Roma. E em Roma, na Santa Sé, entre 1937 e 1939, escrevem 6 cardeais, numerosos bispos, superiores de institutos religiosos, reitores de universidades, dirigentes de movimentos e associações, homens e mulheres simples. Todos pedem uma única coisa: “Proclamem santo a Pier Giorgio. É um exemplo para se imitar.”
Alguma coisa, porém, não dá certo. Em dezembro de 1941chega ao Vaticano uma citação “reservadissima” e anônima. Alguém coloca duvidas a respeito da integridade de conduta de Pier Giorgio fazendo referencia a um passeio feito na companhia de amigas no parque turinese de Valentino, jogando sombras sobre as excursões pelas montanhas organizadas junto com outros rapazes e moças e acenando, enfim, a uma afetuosa simpatia de Pier Giorgio nos encontros com a senhorita Laura Hidalgo. Tratam-se de insinuações, de falatórios. Nada de mais. Pensando-se hoje nas preocupações de então, nos vem um sorriso. Um passeio, à luz do Sol, em um parque; excursões programadas e feitas em grupo, de forma despreocupada, certo, mas moralmente séria; apaixonar-se por uma moça: todas coisas normais, normalíssimas. E bonitas.
Controvérsias esclarecidas
A “denúncia” influiu negativamente no voto da Sagrada Congregação dos Ritos, que naquela época cuidava também das causas dos santos: sete membros são a favor de Pier Giorgio, 5 pedem para confirmar o parecer após ulteriores acertos, um deles diz de pronto ser contrario a ver o jovem turinese indicado como modelo. A palavra passa ao Papa, Pio XII, o qual pede (12 de dezembro de 1941) que primeiro se prossigam as averiguações (“dilata et ad mentem”) e depois (4 de junho de 1944) dispõe o “reponatur”, ou seja, o arquivamento, confirmado ainda em 15 de janeiro de 1945 (“non expedire”). A causa, então, é bloqueada. As dificuldades, surgidas como conseqüência de suposições e não de provas, parecem não ter solução.
Passa também o furacão da Segunda Guerra mundial. Entre 1949 e 1951, a irmã, Luciana Frassati, colhe, por iniciativa própria, 900 peças, entre documentos, declarações, testemunhos. Um trabalho precioso o seu. Conclui toda a busca em uns vinte dossiês e informa ao Vaticano o que fez. Giovanni Battista Montini, então substituto junto à Secretaria de Estado, em 2 de julho de 1951, sob disposição de Pio XII, pede ao pro-prefeito da Sagrada Congregação dos Ritos, cardeal Clemente Micara, de confiar a um consultor a incumbência de examinar se a documentação da sra. Frassati era tal que justificasse o consentimento da reabertura da causa de beatificação de Pier Giorgio. A delicada tarefa foi dada a um franciscano conventual, padre Gaetano Stano, o qual a 22 de janeiro de 1953, com um relatório de 40 páginas datilografadas se diz substancialmente favorável à reabertura da causa, ainda que, precisa ele, “um julgamento adequado e conclusivo poderia ser dado apenas com a validação integral de todos os documentos recuperados”, cobertos naquele momento por uma cortina de segredo impenetrável também para ele, segredo que torna inexplicável o soterramento do processo de beatificação.
A obra da sra. Frassati e do padre Stano esclarecem todavia os pontos de controvérsia, do inocentissimo passeio (descobriu-se que do passeio ao Valentino participaram sete jovens, cinco rapazes e duas moças, e se confirma que na época Pier Giorgio tinha 14 anos), das excursões pela montanha, ao amor (intenso, puro, nunca declarado) por Laura Hidalgo.
O afeto por Laura
Giovanni Battista Montini torna-se Papa com o nome de Paulo VI. Em 1965, os salesianos, através de uma petição, pedem ao cardeal Arcádio Larraona, prefeito da Sagrada Congregação dos Ritos, o desbloqueio da causa. O cardeal, com uma carta datada de 18 de agosto de 1965, encarrega o jesuíta turinese padre Paolo Molinari de desenvolver uma investigação complementar que foi concluída em 17 de abril de 1967. O material recolhido por pe. Molinari é muito significativo: serve não apenas para dissolver qualquer dúvida, mas mais ainda, coloca em evidência a riqueza cristã de Pier Giorgio.
Solicitado hoje a falar sobre aquela sua investigação, pe. Molinari, com um educado ‘sem comentários’, prefere respeitar a reserva pedida então pelos vértices da Igreja. ”Posso dizer que as dúvidas foram todas dirimidas porque todas são absolutamente sem fundamentos”, afirma. Devemos nos perguntar se não havia malevolência no que dizia respeito ao jovem turinese, malevolência que encontrou sua “obra prima” na voz, falsa, colocada para circular não se sabe por quem, de se ter encontrado o corpo de Pier Giorgio em atitude descomposta, desesperada.”
Todas bobagens sem sentido. Algumas palavras pe. Molinari usa para falar sobre o afeto de Pier Giorgio por Laura Hidalgo: “É a meu ver uma das condutas mais heróicas de Frassati. Temia que o seu eventual noivado com a Hidalgo pudesse provocar, por vários motivos, o rompimento do casamento de seus pais. Antes de se tornar obstáculo ao vínculo sacramental de seus pais, renunciou voluntariamente ao seu sonho pessoal de amor.”
O desejo do Papa
O clima geral, se compreende, melhorou notadamente. Mas não aconteceu nada de novo até 1974. A 21 de agosto daquele ano, o cardeal Giovanni Villot, secretario de Estado, pede ao Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos (agora separada daquela dos Ritos) para reexaminar atentamente o capítulo referente à Pier Giorgio: “É um desejo do Papa”, especifica. Finalmente cai o segredo. Todos os documentos coletados até então podem ser estudados por quem de dever (é encarregado novamente pe. Gaetano Stano). E o próprio pe. Stano, em 15 de novembro de 1976, apresenta as suas conclusões: “O abaixo assinado anuncia que os resultados das indagações trouxeram a desejada luz sobre os fatos duvidosos em questão, e portanto, dissipada qualquer dúvida sobre a retidão moral de Pier Giorgio Frassati, não vê que outro preventivo obstáculo pudesse impedir o desenvolvimento de uma causa cuja positiva relevância obteve tão numerosos e sérios reconhecimentos.” Em 20 de janeiro de 1977, Paulo VI remove o “reponatur” que se arrastava desde 4 de junho de 1944, decretando ao mesmo tempo o “procedatur ad ulteriora”.
Depois de 33 anos, o processo de beatificação se coloca lentamente em movimento. A irmã, Luciana Frassati, intensifica os contatos com padre Molinari, ao qual pediu ardorosamente que se ocupasse da causa. Em 20 de junho de 1977 a Ação Católica Italiana assume o papel de “atora”, ou seja, aquela que desejando profundamente a beatificação de Pier Giorgio, promove as ações
O milagre aconteceu em S. Quirino, Friuli, pouco afastada de Pordenone, a 28 de dezembro de 1933. Domenico Sellan, classe 1892, já ferido nas costas durante a Primeira Guerra mundial, desde o dia 20 de setembro daquele ano, era obrigado a ficar na cama devido a uma séria lesão da primeira e segunda vértebras lombares. A sua cruz era chamada mal de Pott. Escreveu, a propósito, o seu médico, Dr. Dionísio Sina: “O Sellan perdeu completamente a sensibilidade dos membros inferiores, com repetidas manifestações de meningismo, constantes perdas de memória e dores de cabeça lancinantes. Examinando-o, constatei o agravamento do mal de Pott que traria como conseqüência a paralisia completa das pernas.”
Na manhã daquele 28 de dezembro de 1933, o então pároco da cidade, d. Pietro Martin, visitou Sellan, entregando-lhe uma pequena imagem de Pier Giorgio Frassati. Ficou com ele até a noite. “Ele”, contou o pároco, “quis imediatamente se confessar e quis que lhe trouxessem o viático. Sentiu imediatamente a recuperação de suas forças e com vivo fervor indicou de imediato como autor de tanta graça Pier Giorgio Frassati. As pernas voltaram a sustentá-lo. Vi-o muitas vezes descer da cama e subir as escadas com desenvoltura.”
Como havíamos documentado um ano atrás, no numero 7/’89 da Família Cristã, existem todos os elementos para falar da graça recebida: por um lado, uma cura definida como ‘impossível’ pelos médicos; por outro, a melhora clara, imediata, duradoura. Domenico Sellan (casado e com filhos), depois do prodigioso acontecido, por muito tempo não teve problemas dignos de nota. Morreu dia 17 de janeiro de 1968.
necessárias para tal. A primeira é a escolha do novo postulador. É nomeado o jesuíta padre Paolo Molinari. Em 12 de junho de 1978, papa Montini ordena que seja emitido o decreto sobre a Introdução da Causa. Recomeça-se. Depois se torna vice postulador o religioso Gustavo Luigi Furfaro, dos Irmãos das Escolas Cristãs fundadas por S. Giovanni Battista De La Salle.
O processo apostólico sobre as virtudes se desenvolve junto à Cúria Diocesana de Torino de 16 de junho de 1980 a 29 de julho de 1981. O Tribunal constituído pelo arcebispo, cardeal Anastásio Ballestrero, reúne-se 69 vezes, ouve cerca de 30 testemunhos e em 31 de março de 1981 se cumpre, muito importante, o reconhecimento canônico dos restos mortais de Pier Giorgio. Conta irmão Gustavo Luigi Furfaro: “Encontramos intactos os lacres colocados na caixa mortuária antes que o corpo fosse transportado ao cemitério de Pollone, província de Vercelli, para o sepultamento. O corpo de Pier Giorgio, estava intacto e composto. Nos lábios, um sorriso.”
A palavra passa novamente para Roma. Em 24 de janeiro de 1984, eis a nomeação do “relator” da causa na pessoa do jesuíta pe. Peter Gumpel. Sob sua direção, o postulador pe. Molinari redige a “Positio”, ou seja, “o estudo” da vida, das atividades, das virtudes de Pier Giorgio. Baseando-se, por sua vez, em dois grandes volumes da “Positio”, tratados com escrúpulos histórico-científicos, os teólogos e os cardeais preparam um parecer para o Santo Padre. Em 23 de outubro de 1987, depois da conclusão do Sínodo sobre os leigos, João Paulo II, devidamente informado, ordena que se lance o decreto sobre o heroísmo das virtudes de Pier Giorgio que se torna portanto, Venerável.
Os documentos do milagre
Para que o jovem Frassati se torne Beato deve-se encontrar e documentar um milagre. Em 28 de dezembro de 1988, a irmã de Pier Giorgio, Luciana, descobre providencialmente na casa dos Frassati, em Pollone, toda a documentação relativa à cura do mal de Pott do friulano (N.T.: nativo da cidade de Friuli) Domenico Sellan, cura ocorrida, dizia-se, milagrosamente, no dia 28 de dezembro de 1933 (falaremos a respeito à parte). “A redescoberta dos documentos aconteceu no mesmo dia do milagre, 28 de dezembro…” realça irmão Gustavo Luigi Furfaro.
O processo canônico referente ao presumido milagre abre-se na Cúria, em Torino, a 24 de janeiro de 1989, e conclui-se após apenas 6 dias, no dia 30. No dia seguinte, 31 de janeiro, o relato sobre a milagrosa cura do Sellan foi assinado pelo cardeal Anastásio Ballestrero: é seu último ato oficial; às 12h desse dia, o cardeal Ballestrero termina seu mandato pastoral de arcebispo de Torino. Irmão Gustavo corre para Roma e entrega o dossiê à Congregação para as causas dos santos. Os médicos antes (26/4/1989), os teólogos depois (30/6), e enfim (3/10) os cardeais participantes da Congregação vaticana citada acima, se dizem de acordo: o sr. Domenico Sellan readquiriu a saúde de modo rápido, completo e inexplicável de fato graças à intercessão de Pier Giorgio, para quem havia orado.
Em 21 de dezembro do ano passado foi assinado o decreto oficial no qual se reconhece que verdadeiramente existiu um milagre. A essa altura ficou certo. Pier Giorgio Frassati será proclamado beato.
Alberto Chiara
“Não entendemos logo a sua grandeza”
Fala a irmã Luciana. E de suas lembranças emerge o Pier Giorgio do dia a dia. “Descobrimos a sua plenitude cristã apenas depois da morte.” Tantos exemplos de generosidade.
Quem era Pier Giorgio para a senhora? Luciana Frassati faz um sinal para que esperemos um instante. Levanta-se da poltrona de sua sala turinese e pega um papel. São cinco linhas datilografadas ao todo. Eis, transformada em poesia pela irmã, a figura do jovem que colocou vontade, engenho, alegria, a serviço de Deus e do próximo: “Para mim você é dias, minutos e horas/ de um horizonte de espaço e tempo/cuidadoso ao lançar ramos frondosos /sobre estradas áridas de enganos onde jaz /a urna ardente de quem não amou”. “Sabe,“ explica, “compus estes versos recentemente. Pier Giorgio para mim significa um afeto forte, renovado, significa compreensão, segurança.”
A sra. Luciana tem quase 88 anos. Nasceu em 18 de agosto de 1902, em 24 de janeiro de 1925, casou-se com o diplomata polonês Jean Gawronski, viajando com ele por todo o Velho Continente e tornando-se mãe de sete filhos, (entre os quais o jornalista e euro deputado Jas). Escritora, poetisa, historiadora de Pier Giorgio; Luciana é a sua mais atenta biógrafa. Publicou numerosos livros sobre sua vida, sua fé, sobre sua caridade, sobre seu empenho sóciopolítico. Pacientemente coletou e enviou á imprensa as cartas de seu irmão.
“Fiz isso para entender”, assegura.” Sim, para entender como foi possível que Pier Giorgio tenha se tornado o Pier Giorgio Frassati hoje conhecido por todos. É verdade, em família, descobrimos a plenitude cristã após a morte. Pessoalmente nunca suportei certos retratos inexpressivos de meu irmão que, especialmente no passado, a cavalo entre as duas guerras mundiais, não demonstravam nem valorizavam sua inteligência, o seu completo envolvimento nos acontecimentos da época. Não, Pier Giorgio não tinha uma personalidade insípida.” E para prová-lo, a sra. Luciana levou mais de 50 anos rastreando uma santidade revestida de naturalidade.
Senhora ajude-nos a conhecer o Pier Giorgio de todos os dias… ”Fomos educados de forma austera. Era costume, na época. ”O amor dos pais pelos filhos e vice-versa existia. Sem dúvida. Porém, os relacionamentos dentro dos muros domésticos eram caracterizados por pouco calor, sempre, todavia, acompanhados por um grande respeito. “Ainda que, para falar a verdade, eu muitas vezes tratava papai com muita familiaridade: com ele brincava, aprontava tudo a que tinha direito”, afirma a senhora Luciana.
“Pier Giorgio, em casa, falava pouco ou nada sobre suas idéias, suas atividades externas”. Mas com a senhora trocava confidencias, não é verdade? ”Sim. Éramos muito unidos. Tinha-se formado uma espécie de cumplicidade devida, entre outras coisas, os termos percorrido juntos quase todo o caminho escolar (elementares, ginásio, liceu)” Luciana Frassati não esquece: “Ele repetiu duas vezes em Latim, eu apenas uma.” E acrescenta:” Nós nos protegíamos. Se na aula alguma coisa não andava direito com algum dos dois, o outro não falava nada para o papai e a mamãe.”
Continuemos explorando as recordações da irmã. “Não se pode deixar de mencionar sua saúde de ferro. Teve varicela. Mas depois, nem uma dor de cabeça, nunca um sinal de cansaço, mesmo se acontecia de dormir pouco. Uma vez o fiz zangar-se. Estávamos em Sauze d’Oulx, no inverno. Junto com meus amigos, não fui à Missa, indo passear de esqui. Ele me repreendeu, furioso. Um episodio isolado. Sempre me cobria de atenções, delicadezas. Quando andávamos de bike, ao fim de uma subida, ele me esperava sempre. Num dia de carnaval, passamos de trem por Ivrea. Parados na estação, acheguei-me à janela: um rapaz atirou um punhado de confetes em meu rosto. Pier Giorgio revoltou-se. Para ajudar-me atirou-se na água, em Forte dei Marmi, o dia em que o barquinho em que eu estava foi virado pelas ondas altas, jogando-me na água… Eh, a natureza. Ele preferia a montanha. Era um exímio alpinista. Eu privilegiava o mar.
“De certas atitudes suas entendi o real significado apenas mais tarde, após sua morte”.
Poderia nos dar algum exemplo? “Acontecia de vê-lo voltar para casa suado e muito agitado. Tinha, evidentemente, corrido para chegar na hora do almoço ou do jantar (nosso pai fazia questão da pontualidade). “O que será que ele aprontou para ficar desse jeito?”pensava. Com o tempo, depois de seu desaparecimento, descobri que passava horas ajudando os pobres de Torino, esvaziando seus bolsos com eles e ficando sem dinheiro para a condução.
Não recordo um ato mesquinho, uma malvadeza. Por caridade! Sabia rir e brincar. Mas sempre com discrição, com medidas. Quando ele estava, nas conversas em grupo, eram evitados sempre assuntos fúteis e palavras pouco polidas. Era generoso. E atencioso. No dia 15 de julho de 1923, quando me formei em Direito (com nota máxima e louvor), foi o único que me deu um presente. Meus pais me ofereceram um sorvete na Baratti e Milão. Ele chegou com uma cópia da vida de Santa Catarina de Siena de Joergensen. Li no bilhetinho que acompanhava o presente: “À boa e querida irmã, no dia de sua formatura, este livro, para que lhe sirva de guia no caminho de ascensão à perfeição espiritual”.
Créditos: Alberto Chiara