A ”conquista” da santidade

De 1932 até hoje: a história do longo e árduo caminho da causa de beatificação reconstruída através de documentos, testemunhos e atos oficiais

Pier Giorgio Frassati, beato. A Igreja o indica como modelo de vida cristã. Faz isso oficialmente, a 65 anos de sua morte. Antes de colocar alguém sobre os altares, a Igreja cumpre acuradas pesquisas, exigindo, como confirmação divina do julgamento humano, as provas de um ou mais milagres. Em resumo, procede com pés de chumbo: um justo exercício de prudência. As pessoas, porém, querem os caminhos mais curtos. A fama de santidade de Pier Giorgio desabrocha no próprio dia de seus funerais, 6 de julho de 1925, em Torino. A respeito anota sua irmã, Luciana Frassati: “A rua, eram 9 da manhã, quase não continha as milhares de pessoas que acorriam de todos os lados da cidade. Aos muitos que já se tinham alternado pelos quartos de casa e que quiseram misturar suas lágrimas às nossas, se juntava agora a maré incontrolável de uma turba de desconhecidos, velhos e jovens, pobres e ricos.” A turba à qual se refere Luciana Frassati tem o semblante dos amigos de Pier Giorgio; dos indigentes que ele conheceu em sótãos insalubres, ajudando-os; tem a memória de quantos lembram sua caridade nutrida de fé pura.
Em 2 de julho, o então arcebispo de Torino, cardeal Maurílio Fossati, abre o processo informativo ordinário. Até 23 de outubro de 1935, em 232 sessões, são ouvidas 25 testemunhas (mas não sua irmã, inexplicavelmente), em parte convocadas pelo postulador da causa, o salesiano D. Francesco Tomasetti e em parte pelo Tribunal eclesiástico, chamado a cuidar do “caso pier Giorgio”. O material coletado foi enviado para Roma. E em Roma, na Santa Sé, entre 1937 e 1939, escrevem 6 cardeais, numerosos bispos, superiores de institutos religiosos, reitores de universidades, dirigentes de movimentos e associações, homens e mulheres simples. Todos pedem uma única coisa: “Proclamem santo a Pier Giorgio. É um exemplo para se imitar.”
Alguma coisa, porém, não dá certo. Em dezembro de 1941chega ao Vaticano uma citação “reservadissima” e anônima. Alguém coloca duvidas a respeito da integridade de conduta de Pier Giorgio fazendo referencia a um passeio feito na companhia de amigas no parque turinese de Valentino, jogando sombras sobre as excursões pelas montanhas organizadas junto com outros rapazes e moças e acenando, enfim, a uma afetuosa simpatia de Pier Giorgio nos encontros com a senhorita Laura Hidalgo. Tratam-se de insinuações, de falatórios. Nada de mais. Pensando-se hoje nas preocupações de então, nos vem um sorriso. Um passeio, à luz do Sol, em um parque; excursões programadas e feitas em grupo, de forma despreocupada, certo, mas moralmente séria; apaixonar-se por uma moça: todas coisas normais, normalíssimas. E bonitas.

Controvérsias esclarecidas

A “denúncia” influiu negativamente no voto da Sagrada Congregação dos Ritos, que naquela época cuidava também das causas dos santos: sete membros são a favor de Pier Giorgio, 5 pedem para confirmar o parecer após ulteriores acertos, um deles diz de pronto ser contrario a ver o jovem turinese indicado como modelo. A palavra passa ao Papa, Pio XII, o qual pede (12 de dezembro de 1941) que primeiro se prossigam as averiguações (“dilata et ad mentem”) e depois (4 de junho de 1944) dispõe o “reponatur”, ou seja, o arquivamento, confirmado ainda em 15 de janeiro de 1945 (“non expedire”). A causa, então, é bloqueada. As dificuldades, surgidas como conseqüência de suposições e não de provas, parecem não ter solução.
Passa também o furacão da Segunda Guerra mundial. Entre 1949 e 1951, a irmã, Luciana Frassati, colhe, por iniciativa própria, 900 peças, entre documentos, declarações, testemunhos. Um trabalho precioso o seu. Conclui toda a busca em uns vinte dossiês e informa ao Vaticano o que fez. Giovanni Battista Montini, então substituto junto à Secretaria de Estado, em 2 de julho de 1951, sob disposição de Pio XII, pede ao pro-prefeito da Sagrada Congregação dos Ritos, cardeal Clemente Micara, de confiar a um consultor a incumbência de examinar se a documentação da sra. Frassati era tal que justificasse o consentimento da reabertura da causa de beatificação de Pier Giorgio. A delicada tarefa foi dada a um franciscano conventual, padre Gaetano Stano, o qual a 22 de janeiro de 1953, com um relatório de 40 páginas datilografadas se diz substancialmente favorável à reabertura da causa, ainda que, precisa ele, “um julgamento adequado e conclusivo poderia ser dado apenas com a validação integral de todos os documentos recuperados”, cobertos naquele momento por uma cortina de segredo impenetrável também para ele, segredo que torna inexplicável o soterramento do processo de beatificação.
A obra da sra. Frassati e do padre Stano esclarecem todavia os pontos de controvérsia, do inocentissimo passeio (descobriu-se que do passeio ao Valentino participaram sete jovens, cinco rapazes e duas moças, e se confirma que na época Pier Giorgio tinha 14 anos), das excursões pela montanha, ao amor (intenso, puro, nunca declarado) por Laura Hidalgo.

O afeto por Laura

Giovanni Battista Montini torna-se Papa com o nome de Paulo VI. Em 1965, os salesianos, através de uma petição, pedem ao cardeal Arcádio Larraona, prefeito da Sagrada Congregação dos Ritos, o desbloqueio da causa. O cardeal, com uma carta datada de 18 de agosto de 1965, encarrega o jesuíta turinese padre Paolo Molinari de desenvolver uma investigação complementar que foi concluída em 17 de abril de 1967. O material recolhido por pe. Molinari é muito significativo: serve não apenas para dissolver qualquer dúvida, mas mais ainda, coloca em evidência a riqueza cristã de Pier Giorgio.
Solicitado hoje a falar sobre aquela sua investigação, pe. Molinari, com um educado ‘sem comentários’, prefere respeitar a reserva pedida então pelos vértices da Igreja. ”Posso dizer que as dúvidas foram todas dirimidas porque todas são absolutamente sem fundamentos”, afirma. Devemos nos perguntar se não havia malevolência no que dizia respeito ao jovem turinese, malevolência que encontrou sua “obra prima” na voz, falsa, colocada para circular não se sabe por quem, de se ter encontrado o corpo de Pier Giorgio em atitude descomposta, desesperada.”
Todas bobagens sem sentido. Algumas palavras pe. Molinari usa para falar sobre o afeto de Pier Giorgio por Laura Hidalgo: “É a meu ver uma das condutas mais heróicas de Frassati. Temia que o seu eventual noivado com a Hidalgo pudesse provocar, por vários motivos, o rompimento do casamento de seus pais. Antes de se tornar obstáculo ao vínculo sacramental de seus pais, renunciou voluntariamente ao seu sonho pessoal de amor.”

O desejo do Papa

O clima geral, se compreende, melhorou notadamente. Mas não aconteceu nada de novo até 1974. A 21 de agosto daquele ano, o cardeal Giovanni Villot, secretario de Estado, pede ao Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos (agora separada daquela dos Ritos) para reexaminar atentamente o capítulo referente à Pier Giorgio: “É um desejo do Papa”, especifica. Finalmente cai o segredo. Todos os documentos coletados até então podem ser estudados por quem de dever (é encarregado novamente pe. Gaetano Stano). E o próprio pe. Stano, em 15 de novembro de 1976, apresenta as suas conclusões: “O abaixo assinado anuncia que os resultados das indagações trouxeram a desejada luz sobre os fatos duvidosos em questão, e portanto, dissipada qualquer dúvida sobre a retidão moral de Pier Giorgio Frassati, não vê que outro preventivo obstáculo pudesse impedir o desenvolvimento de uma causa cuja positiva relevância obteve tão numerosos e sérios reconhecimentos.” Em 20 de janeiro de 1977, Paulo VI remove o “reponatur” que se arrastava desde 4 de junho de 1944, decretando ao mesmo tempo o “procedatur ad ulteriora”.

Depois de 33 anos, o processo de beatificação se coloca lentamente em movimento. A irmã, Luciana Frassati, intensifica os contatos com padre Molinari, ao qual pediu ardorosamente que se ocupasse da causa. Em 20 de junho de 1977 a Ação Católica Italiana assume o papel de “atora”, ou seja, aquela que desejando profundamente a beatificação de Pier Giorgio, promove as ações

Uma cura impossível

O milagre aconteceu em S. Quirino, Friuli, pouco afastada de Pordenone, a 28 de dezembro de 1933. Domenico Sellan, classe 1892, já ferido nas costas durante a Primeira Guerra mundial, desde o dia 20 de setembro daquele ano, era obrigado a ficar na cama devido a uma séria lesão da primeira e segunda vértebras lombares. A sua cruz era chamada mal de Pott. Escreveu, a propósito, o seu médico, Dr. Dionísio Sina: “O Sellan perdeu completamente a sensibilidade dos membros inferiores, com repetidas manifestações de meningismo, constantes perdas de memória e dores de cabeça lancinantes. Examinando-o, constatei o agravamento do mal de Pott que traria como conseqüência a paralisia completa das pernas.”

Na manhã daquele 28 de dezembro de 1933, o então pároco da cidade, d. Pietro Martin, visitou Sellan, entregando-lhe uma pequena imagem de Pier Giorgio Frassati. Ficou com ele até a noite. “Ele”, contou o pároco, “quis imediatamente se confessar e quis que lhe trouxessem o viático. Sentiu imediatamente a recuperação de suas forças e com vivo fervor indicou de imediato como autor de tanta graça Pier Giorgio Frassati. As pernas voltaram a sustentá-lo. Vi-o muitas vezes descer da cama e subir as escadas com desenvoltura.”

Como havíamos documentado um ano atrás, no numero 7/’89 da Família Cristã, existem todos os elementos para falar da graça recebida: por um lado, uma cura definida como ‘impossível’ pelos médicos; por outro, a melhora clara, imediata, duradoura. Domenico Sellan (casado e com filhos), depois do prodigioso acontecido, por muito tempo não teve problemas dignos de nota. Morreu dia 17 de janeiro de 1968.

necessárias para tal. A primeira é a escolha do novo postulador. É nomeado o jesuíta padre Paolo Molinari. Em 12 de junho de 1978, papa Montini ordena que seja emitido o decreto sobre a Introdução da Causa. Recomeça-se. Depois se torna vice postulador o religioso Gustavo Luigi Furfaro, dos Irmãos das Escolas Cristãs fundadas por S. Giovanni Battista De La Salle.
O processo apostólico sobre as virtudes se desenvolve junto à Cúria Diocesana de Torino de 16 de junho de 1980 a 29 de julho de 1981. O Tribunal constituído pelo arcebispo, cardeal Anastásio Ballestrero, reúne-se 69 vezes, ouve cerca de 30 testemunhos e em 31 de março de 1981 se cumpre, muito importante, o reconhecimento canônico dos restos mortais de Pier Giorgio. Conta irmão Gustavo Luigi Furfaro: “Encontramos intactos os lacres colocados na caixa mortuária antes que o corpo fosse transportado ao cemitério de Pollone, província de Vercelli, para o sepultamento. O corpo de Pier Giorgio, estava intacto e composto. Nos lábios, um sorriso.”
A palavra passa novamente para Roma. Em 24 de janeiro de 1984, eis a nomeação do “relator” da causa na pessoa do jesuíta pe. Peter Gumpel. Sob sua direção, o postulador pe. Molinari redige a “Positio”, ou seja, “o estudo” da vida, das atividades, das virtudes de Pier Giorgio. Baseando-se, por sua vez, em dois grandes volumes da “Positio”, tratados com escrúpulos histórico-científicos, os teólogos e os cardeais preparam um parecer para o Santo Padre. Em 23 de outubro de 1987, depois da conclusão do Sínodo sobre os leigos, João Paulo II, devidamente informado, ordena que se lance o decreto sobre o heroísmo das virtudes de Pier Giorgio que se torna portanto, Venerável.

Os documentos do milagre

Para que o jovem Frassati se torne Beato deve-se encontrar e documentar um milagre. Em 28 de dezembro de 1988, a irmã de Pier Giorgio, Luciana, descobre providencialmente na casa dos Frassati, em Pollone, toda a documentação relativa à cura do mal de Pott do friulano (N.T.: nativo da cidade de Friuli) Domenico Sellan, cura ocorrida, dizia-se, milagrosamente, no dia 28 de dezembro de 1933 (falaremos a respeito à parte). “A redescoberta dos documentos aconteceu no mesmo dia do milagre, 28 de dezembro…” realça irmão Gustavo Luigi Furfaro.
O processo canônico referente ao presumido milagre abre-se na Cúria, em Torino, a 24 de janeiro de 1989, e conclui-se após apenas 6 dias, no dia 30. No dia seguinte, 31 de janeiro, o relato sobre a milagrosa cura do Sellan foi assinado pelo cardeal Anastásio Ballestrero: é seu último ato oficial; às 12h desse dia, o cardeal Ballestrero termina seu mandato pastoral de arcebispo de Torino. Irmão Gustavo corre para Roma e entrega o dossiê à Congregação para as causas dos santos. Os médicos antes (26/4/1989), os teólogos depois (30/6), e enfim (3/10) os cardeais participantes da Congregação vaticana citada acima, se dizem de acordo: o sr. Domenico Sellan readquiriu a saúde de modo rápido, completo e inexplicável de fato graças à intercessão de Pier Giorgio, para quem havia orado.
Em 21 de dezembro do ano passado foi assinado o decreto oficial no qual se reconhece que verdadeiramente existiu um milagre. A essa altura ficou certo. Pier Giorgio Frassati será proclamado beato.
Alberto Chiara

“Não entendemos logo a sua grandeza”

Fala a irmã Luciana. E de suas lembranças emerge o Pier Giorgio do dia a dia. “Descobrimos a sua plenitude cristã apenas depois da morte.” Tantos exemplos de generosidade.

Quem era Pier Giorgio para a senhora? Luciana Frassati faz um sinal para que esperemos um instante. Levanta-se da poltrona de sua sala turinese e pega um papel. São cinco linhas datilografadas ao todo. Eis, transformada em poesia pela irmã, a figura do jovem que colocou vontade, engenho, alegria, a serviço de Deus e do próximo: “Para mim você é dias, minutos e horas/ de um horizonte de espaço e tempo/cuidadoso ao lançar ramos frondosos /sobre estradas áridas de enganos onde jaz /a urna ardente de quem não amou”. “Sabe,“ explica, “compus estes versos recentemente. Pier Giorgio para mim significa um afeto forte, renovado, significa compreensão, segurança.”
A sra. Luciana tem quase 88 anos. Nasceu em 18 de agosto de 1902, em 24 de janeiro de 1925, casou-se com o diplomata polonês Jean Gawronski, viajando com ele por todo o Velho Continente e tornando-se mãe de sete filhos, (entre os quais o jornalista e euro deputado Jas). Escritora, poetisa, historiadora de Pier Giorgio; Luciana é a sua mais atenta biógrafa. Publicou numerosos livros sobre sua vida, sua fé, sobre sua caridade, sobre seu empenho sóciopolítico. Pacientemente coletou e enviou á imprensa as cartas de seu irmão.
“Fiz isso para entender”, assegura.” Sim, para entender como foi possível que Pier Giorgio tenha se tornado o Pier Giorgio Frassati hoje conhecido por todos. É verdade, em família, descobrimos a plenitude cristã após a morte. Pessoalmente nunca suportei certos retratos inexpressivos de meu irmão que, especialmente no passado, a cavalo entre as duas guerras mundiais, não demonstravam nem valorizavam sua inteligência, o seu completo envolvimento nos acontecimentos da época. Não, Pier Giorgio não tinha uma personalidade insípida.” E para prová-lo, a sra. Luciana levou mais de 50 anos rastreando uma santidade revestida de naturalidade.
Senhora ajude-nos a conhecer o Pier Giorgio de todos os dias… ”Fomos educados de forma austera. Era costume, na época. ”O amor dos pais pelos filhos e vice-versa existia. Sem dúvida. Porém, os relacionamentos dentro dos muros domésticos eram caracterizados por pouco calor, sempre, todavia, acompanhados por um grande respeito. “Ainda que, para falar a verdade, eu muitas vezes tratava papai com muita familiaridade: com ele brincava, aprontava tudo a que tinha direito”, afirma a senhora Luciana.
“Pier Giorgio, em casa, falava pouco ou nada sobre suas idéias, suas atividades externas”. Mas com a senhora trocava confidencias, não é verdade? ”Sim. Éramos muito unidos. Tinha-se formado uma espécie de cumplicidade devida, entre outras coisas, os termos percorrido juntos quase todo o caminho escolar (elementares, ginásio, liceu)” Luciana Frassati não esquece: “Ele repetiu duas vezes em Latim, eu apenas uma.” E acrescenta:” Nós nos protegíamos. Se na aula alguma coisa não andava direito com algum dos dois, o outro não falava nada para o papai e a mamãe.”
Continuemos explorando as recordações da irmã. “Não se pode deixar de mencionar sua saúde de ferro. Teve varicela. Mas depois, nem uma dor de cabeça, nunca um sinal de cansaço, mesmo se acontecia de dormir pouco. Uma vez o fiz zangar-se. Estávamos em Sauze d’Oulx, no inverno. Junto com meus amigos, não fui à Missa, indo passear de esqui. Ele me repreendeu, furioso. Um episodio isolado. Sempre me cobria de atenções, delicadezas. Quando andávamos de bike, ao fim de uma subida, ele me esperava sempre. Num dia de carnaval, passamos de trem por Ivrea. Parados na estação, acheguei-me à janela: um rapaz atirou um punhado de confetes em meu rosto. Pier Giorgio revoltou-se. Para ajudar-me atirou-se na água, em Forte dei Marmi, o dia em que o barquinho em que eu estava foi virado pelas ondas altas, jogando-me na água… Eh, a natureza. Ele preferia a montanha. Era um exímio alpinista. Eu privilegiava o mar.
“De certas atitudes suas entendi o real significado apenas mais tarde, após sua morte”.
Poderia nos dar algum exemplo? “Acontecia de vê-lo voltar para casa suado e muito agitado. Tinha, evidentemente, corrido para chegar na hora do almoço ou do jantar (nosso pai fazia questão da pontualidade). “O que será que ele aprontou para ficar desse jeito?”pensava. Com o tempo, depois de seu desaparecimento, descobri que passava horas ajudando os pobres de Torino, esvaziando seus bolsos com eles e ficando sem dinheiro para a condução.
Não recordo um ato mesquinho, uma malvadeza. Por caridade! Sabia rir e brincar. Mas sempre com discrição, com medidas. Quando ele estava, nas conversas em grupo, eram evitados sempre assuntos fúteis e palavras pouco polidas. Era generoso. E atencioso. No dia 15 de julho de 1923, quando me formei em Direito (com nota máxima e louvor), foi o único que me deu um presente. Meus pais me ofereceram um sorvete na Baratti e Milão. Ele chegou com uma cópia da vida de Santa Catarina de Siena de Joergensen. Li no bilhetinho que acompanhava o presente: “À boa e querida irmã, no dia de sua formatura, este livro, para que lhe sirva de guia no caminho de ascensão à perfeição espiritual”.

Créditos: Alberto Chiara

Urna que contém as relíquias de Pier Giorgio-Duomo de Torino

“Por isso, todo escriba instruído nas coisas do Reino dos Céus é comparado a um pai de família que tira de seu tesouro coisas novas e velhas” (Mt 13,52)

Pe Reinaldo Aparecido Bento*

Ao ler hoje certas “biografias” de Santos hoje, nos deparamos com a tentativa de atualizar ou mesmo fazer parecer que o Santo viveu ou vivesse nos nossos dias. O que leva na verdade uma fuga a um “mundo da fantasia e outras irrealidades” Essa tentação não  se expressa só na área literária mas nas artes plásticas e outras formas…, mas o pior quando essa afeta ao modo de viver a Fé. Sim, já encontrei quem se inspirou em filmes e coisas semelhantes o viver uma vocação , o resultado foi trágico (e alguma vez cômico, mas mesmo assim trágico). Pois lendo algumas coisas recentes publicadas recentemente, sobre nosso querido amigo Frassati, tenho verificado a tentativa por um lado de tornar atraente sua figura, mas atraente segundo algum modismo e por outro um distanciamento dos fatos que realmente cercaram sua pessoa. Já São  Francisco de Sales alertava sobre o prejuízo espiritual que certas biografias faziam aos fiéis. Divulgar a vida de um Santo sem ir as fontes (e fontes não apenas literárias), pode distorcer o modelo (sim porque a Igreja propõe o Santo ou Beato como modelos, exemplos, pessoas a serem imitadas em conformidade com a Doutrina Católica). Creio que nós precisamos de pessoas interessadas antes em favorecer o conhecimento dos fatos que cercaram sua vida.1 O Beato Pier Giorgio Frassati, se tornou santo, pelos mesmos meios que todos os Santos se tornaram, por pura Graça de DEUS. Os divertimentos juvenis, suas amizades e outra coisas não o santificaram , foi JESUS CRISTO quem santificou essas coisas em  Frassati. Quando se busca muito detalhes de ‘pode ou não  pode’ ou ‘ ele fez isso ou aquilo’, obscurece a gênesis do Caráter santificado, da vida na forma de Deus: A Graça de DEUS.

Frassati soube haurir das fontes  ( os Sacramentos, a oração , a Vida na Graça), melhor do que imaginamos. Ele como leitor assíduo das Cartas Paulinas, compreendeu que é por meio de CRISTO que ele poderia realizar tudo. Dizer que Frassati nadava, corria, fazia esportes, dançava, brincava, não faz melhor ou santo, mas que a Graça atuava nele em tudo o que fazia era sim extraordinário e o fazia Santo. Sim ele viveu a sua juventude envolto por essas atividades, mas tirando dela o fruto da Graça. Era, por exemplo, uma canção  desafinada que o tornava simpático mesmo para os inimigos (utilizando isso para seu discreto mas eficiente Apostolado) ou o momento de rezar o terço que com a Graça, fazia um ateu rezar natural e piedosamente como se fosse um crist o devoto. O segredo que faz o santo n o é o costume de uma época, ou se ele é parecido com os jovens de hoje em seus costumes. O segredo é unicamente JESUS, “que é o mesmo, ontem, hoje e o será para sempre” (cf. Hb 13,8). O que tornou Frassati importante para muitos, foi sem duvida seu atuar na graça, que permanece vivo hoje. A vida de Frassati melhor apresentada n o só o fará admirar, mas tornará possível que outros trilhem o caminho descoberto por ele e façam gozar de sua especial companhia. Maquiar, pinta-lo com cores “modernas”, sem uma busca da verdade é trair quem foi Pier Giorgio Frassati, que como Terciário Dominicano nada mais desejou que isso, expresso no lema da Ordem :”Véritas”.

¹Como o nosso site, que tem apresentado o conteúdo direto de suas fontes.

*Sacerdote da Diocese de Osasco –SP

Profundo conhecedor da vida dos Santos e grande entusiasta de Píer Giorgio.

Pier Giorgio Frassati – “ Verso l`alto”

Maria Elisa de Oliveira  *

Conheci   Pier Giorgio Frassati, jovem italiano de Turim, filho de embaixador, morto em 1925 com apenas 24 anos de idade e, proclamado beato pelo papa João Paulo II em 1990 , por meio de um outro jovem  –  Eduardo Henrique da Silva, esse último, bem brasileiro , paulistano de nascimento.

Nossa amizade, que permanece até hoje, começou num curso de Teologia, em 1994 pouco depois da beatificação de Pier Giorgio. Na ocasião, Eduardo já revelava uma grande devoção e admiração pela vida de santidade deste jovem italiano cuja marca sempre fora o esquecimento de si mesmo, em benefício dos mais pobres  .

Contudo, sua devoção ia mais longe e já naquela época, Eduardo procurava por todos os meios, divulgar o nome de Píer Giorgio entre nós. Esse esmero incansável na divulgação da vida de santidade do jovem italiano não se limitava e ainda não se limita apenas ao Brasil  mas, vai em busca de outras fronteiras.

Aos poucos, a partir das leituras de livros , comentários e biografias sobre a vida de Pier Giorgio Frassati, cedidos por Eduardo, fui conhecendo os ideais que moviam o coração deste jovem beato e seu envolvimento responsável com a Igreja Católica, ao mesmo tempo que me comovia com sua devoção ao Santíssimo Sacramento e os grupos marianos.

O Curso  de Teologia, com a duração de dois anos permitiram, pela estreita e assídua convivência, que eu pudesse acompanhar um processo que ainda hoje se dá, de entrelaçamento e feitura de almas, na busca pela santidade, entre esses dois jovens, tão distantes no tempo, lugar e na condição social e, me agrada nomeá-los juntos  –  Píer Giorgio Frassati e Eduardo Henrique .

Nossas conversas diárias giravam quase sempre em torno da vida de doação de Píer Giorgio, que   aliás Eduardo conhece em detalhes, fruto de suas incansáveis pesquisas, a ponto de dar a impressão, por vezes, de que ele próprio o acompanhara em diversas ocasiões.

Todo esse amor e admiração pela vida do jovem beato ganhava mais cores quando, geralmente aos sábados, após as aulas íamos alegres ao encontro da irmã Luiza Angélica Mortari, de alma extraordinária e, que entrara no Mosteiro da Visitação, no bairro da Vila Mariana em  São Paulo, com apenas dezesseis anos, vindo a falecer em 2007 ,  em odor de santidade.

Soube mais tarde que Eduardo ganhara da referida irmã um exemplar do Jornal l `Osservatore Romano e nele, tomara conhecimento de uma foto estampada de Píer Giorgio no esplendor de sua juventude. Bastou esse imagem para que o interesse de Eduardo pela vida do jovem italiano se acendesse como uma chama ardente que se mantém alta e vigorosa,

A partir daí, a vida e a missão desse jovem brasileiro se concentrou em difundir a vida de heroísmo cristão de Píer Giorgio. Inúmeros mosteiros e conventos em solo brasileiro que  possuem em suas dependências imagens e resumos dos principais feitos desse jovem beato são o resultado do seu trabalho infatigável de divulgação.

Nomeio, em especial, o Mosteiro Cristo-Rei   das Dominicanas de São Roque em São Paulo que na pessoa da monja, Madre Carmem Dulce da Santíssima Trindade- Marcondes Machado-, amiga de Heitor Villa Lobos e professora de música da Faculdade Santa Marcelina, Eduardo sempre encontrou apoio e incentivo na divulgação da vida de Píer Giorgio Frassati.

Do rico tecido, por sua vez,da curta existência do jovem italiano, gostaria de ressaltar, ao menos, dois traços: o convívio e a amizade e sobretudo a sua contagiante alegria de viver (la gioia de vivere) de que dão testemunho todos que com ele tiveram o privilégio e sobretudo a graça de compartilhar de seus ideais e construção do Reino. Luciana Frassati sua irmã, soube como ninguém  revelar estes dois aspectos, em detalhes.  Numa obra de sua autoria e traduzida para o espanhol – Píer Giorgio Frassati: los dias de su vida, o leitor pode acompanhar as iniciativas de Píer Giorgio sempre afeito ao contato com os outros, aos grupos de jovens e sociedades, como meios para fazer o bem e praticar a caridade “sem que os participantes tivessem plena consciência disso” como comenta sua irmã. Amante do alpinismo, sempre que pode Píer Giorgio manifesta sua preferência pelas montanhas – lugar ideal para as reuniões com os amigos. O importante era encontrar oportunidade para estar juntos sob a inspiração de uma fé cristã. E, mais uma vez, é sua irmã que comenta, o jovem italiano encontrará na alegria e no sorriso, as armas perfeitas para reunir participantes tão distintos entre si. As excursões montanhesas se revelariam, ainda sob as anotações de Luciana, ocasiões preciosas para desenvolver o espírito fraternal e comunitário sempre com o cuidado de não permitir uma excessiva intimidade.

Com estas qualidades e outras que não caberiam em mil páginas, Pier Giorgio Frassati foi considerado por João Paulo II , patrono e guia espiritual da juventude acadêmica, dos jovens universitários de nosso tempo e fonte de inspiração dos jovens leigos.

* Professora aposentada da Unesp – campus de Marília/SP, Mestre em Filosofia pela PUC/SP e atualmente docente da Faculdade de Filosofia de São Bento/SP.

Um homem do século vinte

Padre Ceslao Pera, o.p.

No velho registro do convento de São Domingos em Turim se lêem estas palavras no epitáfio de monsenhor Tommaso Giacomelli, dominicano pineroles, falecido bispo de Toulon em 1569:

« Sed felix patriae, mutatio, patria namque

cui pes montis erat, mons Deus est pátria

Essa visão do Piemonte místico me veio após ter lido a crônica da semana da paixão de Pier Giorgio Frassati onde, através do relato dos fatos, se escuta o esvoaçar o espírito que ultrapassa transfigurado a fronteira terrena e perdura radioso na memória da historia:

« É feliz transformação de pátria, porque

para quem pátria era o Piemonte, o monte Deus é pátria. »

Considere-se aquele repetido gesto de Pier Giorgio que pega a Vida de Santa Catarina e lê a quem o visita uma página onde está descrita, com a experiência da Paixão de Cristo, a elevação mística da santa às alturas da divina essência…

Para o espírito de Pier Giorgio, que meditou este fato carismático em suas horas de Getsemani, permaneceu um sinal indicador de seu itinerário, na linha de crescimento de cada alma cristã.

Isso é tão mais significativo quanto mais complexa é a simplicidade linear deste ingênuo da montanha e do espírito: a coerência segura dos turrões bieleses (N.T.: natural da cidade de Biela) se transfigura em fortes resistências psicológicas; o desumano cansaço dos elevados estudos universitários não encobre a fina ponta de seu espírito, forjada pela chama ardente de uma caridade operosa; as doces comodidades de uma vida civil, que na alta burguesia piemontesa lhe assegurava honras e favorecimentos, nem deprimem seu espírito com o ilusório compromisso, nem destroem seu ardor através do prazer fácil.

Outro ponto a se meditar: existe uma «estrada eminente” que o cristianismo abriu para os homens no tocante a ir para a eternidade gloriosa. Todas as outras estradas pelas quais podem os homens caminhar: arte e cultura, ciência e tecnologia, industria e comercio, se não querem se tornar um labirinto, mas um desenvolvimento ordenado de perfeição verdadeiramente digna do homem, deste fato radicalmente novo terão que receber um novo sentido de orientação que redobra, por assim dizer, o seu valor e, retificando-o, multiplica seus desenvolvimentos progressivos.

Pier Giorgio compreendeu muito bem esse significado divino da vida e com todo seu ardor juvenil entrou na «eminente estrada” da caridade, tornando-se o apóstolo que todos conhecem e o místico que, como já se falou anteriormente, é revelado pela leitura e pela meditação do êxtase cateriniano.

Nele se verifica a transfiguração à qual se refere o epitáfio de mons. Tommaso Giacomelli:

« para quem pátria era o Piemonte, o monte Deus é pátria ».

Não cabe a nós julgar qual grau de perfeição na caridade ele tenha atingido, mas não seria generoso e muito menos honesto quem pretendesse desprezar a excelência de sua vida cristã.

O julgamento da sanção final aguarda o legislador supremo que a si reservou tal incumbência.

O julgamento ético no que se refere à vida e à virtude exercitadas em grau heróico estão reservadas para a Igreja que como sociedade divina tem a competência necessária para indicar os heróis da virtude e da ação no que diz respeito à vida eterna.

O julgamento histórico pode ser dado por quem, estudados os fatos, os considera e avalia na trama da historia humana, onde também age o fermento cristão da nova vida, nascida de Jesus Cristo.

Ninguém, sob esse aspecto, pode ignorar os imensos benefícios que Jesus Cristo e a Igreja distribuiram e continuam a difundir na humanidade peregrina.

Agora a vida de Pier Giorgio preenche os primeiros vinte e cinco anos do nosso século (6 de abril de 1901 – 4 de julho de 1925) e todos sabem das lutas e ansiedades de tal período. Não se diz nada novo, afirmando-se que o processo de desmoronamento espiritual alcançou a ultima pedra do edifico cristão, correspondente ao ultimo parágrafo do Credo: « Eu creio… a vida eterna ».

Na confluência dos múltiplos endereços teóricos e práticos, que com mais ou menos enfase tendem a encontrar um sentido para a vida descoroada de seu valor supremo, privada de seu sentido divino, dessacralizada em seu conteúdo real, Pier Giorgio representa o homem do século vinte que aponta a solução certa: a caridade que nos faz amigos de Deus é a perfeição da vida humana. Através dela, a vida reencontra seu valor supremo, seu sentido divino, sua consagração.

Prevalecendo o sentido econômico da vida, sob o constante impulso das necessidades primordiais, teorizadas de forma a restringir sempre mais os horizontes do espírito e eliminar as paisagens abertas da eterna luz, Pier Giorgio se mostra como aquele que pensa e opera na liberdade e na soberania do espírito.

Por um lado, golpeando o jugo da riqueza, liberta-se da aparência falsa do compromisso burguês e imprime à sua vida um impulso generoso livre de qualquer egoísmo.

Por outro, servindo-se da riqueza não para satisfação de seus caprichos ou de suas exigências primordiais, mas para fazer o bem sempre, em qualquer lugar, a todos os necessitados, ele proclama em voz alta que a verdadeira felicidade está em outro lugar e que a verdadeira ascensão da comunidade, se não se quiser que seja um blefe, mas sim uma realidade operante, tem seu empurrão inicial não de baixo onde se agitam os instintos mas do alto onde brilha a luz.

Ele não traduziu em teoria a narração da pobreza e riqueza, mas apresentou uma norma na qual cada um pode ler o grande ensinamento que enquanto libera o espírito da escravidão da matéria e da prepotência, assegura às forças do espírito o triunfo sobre a ambição dos grandes e sobre a sedução do ouro.

Porque integralmente cristão, Pier Giorgio não teve medo das palavras de Jesus (Mt 19,24): «…é mais fácil que um camelo passe pelo buraco de uma agulha que um rico entre no reino de Deus». Por isso viveu alegremente, fazendo o bem e praticando perfeitamente o ensinamento sagrado….

A quem nos acusa de desprezar as coisas da terra em detrimento ao Paraíso ou de anestesiar as pessoas com o narcótico da vida eterna, Pier Giorgio responde com a sua vida que elimina por si só cada amor desordenado pela riqueza e afirma com ênfase o bom uso da criação. Nisso se sente a influencia e se descobre a marca da sublime ascese inaciana que sobre esse principio fundamenta cada posterior perfeição ética, enquanto a chama de seu coração retira alimento vital do calor familiar de são João Bosco.

Através dessa atividade de forças convergentes à atuação da perfeição humana sob a luz de Jesus Cristo, Pier Giorgio mesmo sendo moderno, acaba por sentir-se à vontade com os medievais e, na vida moderna, traduz com eficácia a síntese harmoniosamente fecunda deles, onde desaparecem as distancias e as divergências e, no reflexo da luz eterna, o espírito cumpre seu itinerário místico.

Introdução ao volume de Luciana Frassati, Pier Giorgio Frassati. Recordações, testemunhos e estudos, «Mihi testes», Edições Studio Dominicano, Bolonha, 1985.

Anotações para um panorama

Luciana Frassati

Um personagem sem lampejos. O romantismo nos acostumou aos gestos absolutos, à retórica do heroísmo moral e espiritual. O cinza no entanto é a cor de hoje. E o cinza por fim torna-se esplendido, como o cansaço constante de um operário ou, no seu caso, a obra tenaz de sua caridade.
As suas cartas, imprevisíveis. Mais uma vez, para certos versos é inútil colocar na cabeça o absoluto do texto. A desesperada afirmação de católica felicidade: “ Não posso não ser feliz”. É difícil resistir a certas cartas.
E por fim, nos erros resulta um estilo, ainda mais que isso, um tipo de colóquio, uma voz. Sente-se um arrepio porque o contato é direto: pele com pele.
É mais difícil esconder a caridade do que fazê-la.
Os rostos estupefatos de quem não sabia nada e se encontrou diante de seu funeral. Talvez, por um instante, alguém pensou que toda aquela gente foi ali chamada por um sobrenome. E, no entanto, o foi por um nome.
E seu dinheiro? Todo o dinheiro que distribuiu para os pobres e amigos de Turim?
É, segundo o que penso, o grande mistério de sua vida. Como na multiplicação dos pães: centavos em liras. Dezenas e milhares.
Suportar a mediocridade. A pior mediocridade é a de quem não a admite ou não a percebe. Suportar aquela. Para mim, sua vida já está concluída.
Quem o fez fazer? Quem sabe quantos já fizeram essa pergunta. Eu mesmo. Parece uma veia aberta, uma festa. Todavia, eis aqui. Compreendido isso, estamos com um bom caminho andado.
Talvez o tenha feito por todos aqueles com quem conviveu: mãe, pai, irmã, amigos. Uma decisão lógica, talvez, mais sólida que uma vocação.
Como é difícil parecer um dos muitos e ser um dos poucos!
Foi um erro realçar seus gestos, deixando em silencio sua alma.
Não se pensou que a “mãe de Pier Giorgio” tinha naquela época muitas rivais. Entre as quais a “mãe de Mussolini”.
Uma profunda prova de confiança na vida: cantava, mesmo sendo assustadoramente desafinado.
É fácil esquecer um amor verdadeiro; difícil um falso, impossível um errado e solitário.
Compreendia e perdoava sempre. Deus nos ajude a fazer isso uma vez ou duas pelo menos em nossa vida.
Era tão pouco burguês que não se preocupava com a miséria, a sujeira, a crueldade e hipocrisia dos pobres.
O silencio diante do sofrimento e da morte, todos temos em mente, poucos na fala e nas ações. E isso me fez parecer vil a ponto de ressurgir (por aquele preciso instante que dura a ressurreição de um homem normal) diante da história de sua morte.
Estamos na mesma. Também com relação a ele os homens confundiram inocentemente humildade com pobreza de espírito, doçura com demência.
Foi uma agencia de colocação religiosa, com muitos clientes não religiosos.
Por que tantas agendas? Por que tantos números? Por que tantas listas de palavras iguais? Para quem eram as contas que fazia todos os dias?
Eis o diário que instrui os fatos de uma alma.
Foi feliz alguma vez? Esta pergunta angustia fatalmente, no decorrer de sua vida.
Todas as suas energias, todos seus modos de ser estavam tão voltados e dedicados aos outros, que eu penso a sua felicidade como sendo sua existência.
Uma felicidade exaustiva, que previa naturalmente a felicidade da não existência, a morte e Deus.
Apenas uma barreira para mim: a montanha. Eu não a compreendo, como não enxergo à noite. E então surgem também certas interpretações de ascensão, de subir na direção de Deus.
Na direção de Deus se sobe, sabia-o bem, também descendo na mina. Se todas as subidas fossem elevações!
Não tinha medo de nada, nem mesmo do medo.
Falem-me um pouco da morte, mas não assim. Calmos, tranqüilos, como se falassem de flores ou de coisas insignificantes, assim como ele fazia, sem esforço… Então, compreendido agora que é impossível?

Extraído de Luciana Frassati, Vida e imagens, Sigla Effe, Genova 1959.

Pier Giorgio, um modelo que os jovens do Brasil precisam conhecer

Denise Farina

Descobri Pier Giorgio quando visitava minha filha, estudante do Polito, em Torino. Numa manhã, fui sozinha à Basilica do Santo Sudário e me deparei com seu pequeno altar. Nada sabia dele e fui surpreendida por aquela imagem tão bela, tão jovem, tão ativa e tão distante das imagens de contemplação e sofrimento que costumamos ver atribuídas aos santos. Posteriormente, falando com moradores locais e pesquisando na Internet fui sabendo mais deste Beato quase desconhecido aqui no Brasil e penso ter retornado com Pier Giorgio já internalizado como um exemplo a ser sempre lembrado.
Tempos mais tarde, minha filha atravessou um período difícil em seus estudos. Daqui do Brasil, pouco podia fazer para ajudá-la além do parco consolo de algumas conversas pela Internet. Ela parecia já estar desistindo diante do que acreditava serem dificuldades intransponíveis e então pedi para que confiasse em Pier Giorgio que, assim como ela, foi atleta e estudante do Polito e cujos restos repousavam a poucas quadras de onde ela estava morando. Minha filha nunca confiou em preces, mas ainda assim nossas conversas geralmente terminavam com uma lembrança a Pier Giorgio e, daqui do Brasil, eu fazia o pouco que podia para ajudá-la e orava para ele.
Ontem minha filha nos ligou eufórica: não só foi aprovada como, para sua absoluta surpresa, recebeu uma das melhores notas do grupo. Passou a confiar em Pier Giorgio e deverá ir à Basílica agradecer pessoalmente a ajuda, creio que ainda hoje.
Escrevo esta mensagem hoje porque tenho uma segunda filha, que neste momento está em Santiago do Chile iniciando sua participação numa competição desportiva internacional. Embora já tenha pedido por ela nas preces de ontem, senti a necessidade de buscar Pier Giorgio na Internet antes de sair para o trabalho, uma forma de confirmar minha confiança nele, o Patrono dos Desportistas para o Papa João Paulo II.
Continuem divulgando a vida e o exemplo de Pier Giorgio, um modelo que os jovens do Brasil precisam conhecer.

* Leitora de nosso site.

Pier Giorgio Frassati – Repercussão após sua morte

Eduardo Henrique da Silva

A impressão que tiveram em Turim, no dia dos funerais, foi que esta morte era prenuncio de uma aurora.
Seis anos são passados e a aurora não deixou de brilhar num horizonte cada vez mais vasto.
Depois que os despojos mortais foram furtados aos olhares dos seus amigos, estes voltaram desolados á igreja da Crocetta para meditar aos pés do tabernaculo as lições daquela grande vida.O pequeno grupo inicial começou a aumentar e hoje (1931) já são milhares na Itália e no mundo inteiro os que, norteados por ele, se reúnem nas igrejas e na Santa Missa.
Realmente, este morto está mais vivo que nunca!
Seu nome, agora popular, está gravado no granito e no mármore e se distende nas dobras das bandeiras gloriosas dos Círculos Católicos e das Associações Juvenis.
No dia 04 de julho de 1926, aniversário de sua morte, foi colocada uma placa de mármore na igreja da Crocetta, perto dos bancos onde costumava ajoelhar-se cada manhã. Sob o baixo relevo que o representa de perfil os paroquianos podem ler:

Pier Giorgio Frassati,
Apostolo da Caridade.
Aqui na oração e na união eucarística de cada dia,
Achou a luz e a força que o ajudaram a vencer o bom combate,
Transpor as etapas da vida, como bom soldado de Cristo.
Para lembrança e exemplo para os moços.

Um mês mais tarde, no dia 14 de agosto de 1926, um alpinista conseguiu escalar dois cumes ainda virgens, que no mássico dos Alpes se emparelham com o Ratti; e, para perpetuar, até nos vértices das montanhas, batizou-o com o nome de Pier Giorgio Frassati.
Na Piccola Casa della Providenza, sito no vasto bairro do Cottolengo, maravilha e gloria de Turim, há um grande pavilhão com 300 quartos, que tem o nome de Pier Giorgio Frassati gravado na sua fachada. (Confere em Ecos de Memória – Dois homens ardentes de amor por Jesus e pelos necessitados).
Realizaram assim o desejo que tivera de construir, á sua custa, um estabelecimento destinado a recolher os velhos doentes que, nas suas visitas aos pobres, tantas vezes vira a cargo da família.
Foi ainda para lembrar o seu amor aos pobres que no mesmo bairro onde habitara, um dispensário dirigindo pelas Irmãs de São Vicente de Paulo socorreu numerosas famílias de infelizes, e isto durante muito tempo.
Muito mais que no mármore e no bronze, porém, sua memória vive nos corações. Anualmente, o aniversário da sua morte reúne na igreja da Crocetta as multidões ávidas de ouvir falar sobre ele. Dom Cojazzi (foi o preceptor de Pier Giorgio e seu primeiro biográfo), o padre Righini, S.J., o saudoso ex-assistente eclesiástico da FUCI, Mons. Pini, o Padre Cordovani, O.P, tomaram a si esta incumbência, e os próprios arcebispos de Turim têm proposto aos jovens o exemplo e as virtudes daquele que foi um modelo perfeito. Primeiro o Cardeal Gambá, depois, no dia 04 de julho de 1931, seu sucessor o Cardeal Fossati.
Nesse dia, em todos os pontos da Itália, estudantes, rapazes dos Círculos Católicos, pessoas gradas e mesmas religiosos e religiosas, não deixam de assinalar com a comunhão o aniversário do seu natal para o céu.
A prova disto está na espantosa difusão dos “Testemunhos” recolhidos por Dom Cojazzi, e a elevação de almas que esta leitura produz parece receber a sanção do céu. É o que prova a correspondência diária da qual vamos extrair alguns trechos mais importantes.
De um rapaz: “Há quanto tempo não ia eu à missa? Há quanto tempo deixei de rezar? Nem sei. O que sei é que, longe de Deus, da Igreja e dos Sacramentos, o homem não é mais homem, é simplesmente um animal. Foi meu irmão quem me trouxe a vida de Pier Giorgio Frassati. Comecei a lê-la, página por página sem pular nem uma palavra. No fim da leitura, minha emoção chegou ao auge. Pier Giorgio era perfeito e eu estava tão longe disso! Fiz uma revisão do meu passado e não tive dificuldade em observar que antigamente era eu mais feliz. Entretanto, agora também rezo o terço todas as noites, vou à missa, aproximo-me dos Sacramentos. Tornei a achar o belo tempo da minha juventude. Lá no alto, Pier Giorgio rezou por mim:ou antes salvou-me.”
Outro testemunho.
“Só uma vez tive ocasião de o ver. Foi durante o Congresso Eucarístico de Genova, em 1923, na praça onde se reuniam os grupos de jovens, antes da procissão. Hoje lamento amargamente não ter sabido dar valor ao rapaz que eu estava cumprimentando. Quanto mais proveitoso não haveria de ser para mim o segundo encontro! Realmente, estava longe de pensar que ele viria procura-me neste cantinho obscuro da França”.
Poder-se-iam multiplicar estes fatos e citar ainda as reflexões que acompanham os donativos de esmolas à L`Stampa que sob o título de “Caridade do Sábado” faz um apelo á generosidade do público em favor dos necessitados. (Iniciativa tomada após a morte de Pier Giorgio).
Quantos benefícios espirituais ou temporais, quantas maravilhas de graça, deixam linhas como estas, apesar do véu do anonimato: “Aos pobres de Pier Giorgio Frassati, em ação de graças por um favor extraordinário alcançado…” – “Vítima de muitos infortúnios, apelei para a bondade e compaixão de Pier Giorgio e obtive a graça e consolação.” -“Pela intercessão de Pier Giorgio Frassati alcancei uma graça que há muito tempo estava pedindo a Nosso Senhor”.
É entre os jovens, como dissemos, que se manifesta melhor o impulso das almas para aquele que tanto desejou leva-las a Cristo.
No dia 06 de abril de 1931, Pier Giorgio teria trinta anos. Inúmeras foram as associações que quiseram comemorar esse dia com uma missa, comunhão e uma visita suplementar aos pobres e aos doentes nos hospitais.
“Trinta anos não é muito na vida de um homem – Dizia Dom Cojazzi aos jovens que estavam celebrando esse aniversário – e no entanto, nessa idade o jovem já tem muito encanto. Quanto a ele, que já partiu para Cristo, sempre há de ter vinte quatro anos! Na terra a juventude dura o espaço de uma manhã; só a mocidade dos que adormeceram no beijo do Senhor  é que dura eternamente!”
No cemitério de Pollone, em uma cripta de granito revestido de mármore branco, os despojos mortais de Pier Giorgio esperam a hora da ressurreição, no meio de flores que ele tanto amava e sob o olhar vigilante dos anjos de Bonozzo Gozzoli. (Hoje após a beatificação o corpo de Pier Giorgio encontra-se na Catedral de São Giovanni Batista em Turim em uma capela lateral. Na mesma catedral encontra-se o Santo Sudário).
Na lápide tumular, encimada por uma cruz, larga e sem ornato, talhada no granito de uma montanha, lê-se o seguinte:

Pier Giorgio Frassati

Com vinte e quatro anos de idade nas vésperas
De ser diplomado engenheiro, belo, robusto, alegre e estimado –
Viu chegar de improviso seu último dia – e, como fazia em todas as circunstâncias,
Saúdo-o serenamente – como o mais belo da sua existência.
Confessou a Fé pela pureza de vida e pelas obras de caridade.
A morte o ergueu como um estandarte vivo da juventude cristã.

Estandarte vivo da juventude cristã! Será que os que mandaram gravar na pedra estas palavras de sentido tão profundo suspeitavam até que ponto a fama ia confirma-las?
Em todo caso, raras profecias foram tão bem realizadas.
Um dia Dom Cojazzi respondeu a um jovem que lhe perguntou ingenuamente por que razão Pier Giorgio parece mais vivo que quando estava na terra:
“Porque a vida dele nos ajuda a compreender a palavra do Evangelho: Aquele que ama a sua vida perdê-la-á; o que a perder neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. Como o jovem do evangelho que oferecendo alguns pães, conseguiu alimentar uma multidão, Pier Giorgio, oferecendo a Crista à riqueza, a juventude e a vida, continua mesmo morto a multiplicar seus favores no coração do povo”.
Mais do que nunca, o facho está firme no candelabro e cada vez mais aumenta o facho de luz que o envolve. Sobre Pier Giorgio paira a divina promessa feita ao justo que viveu de fé: “Embora morto, ele fala sempre!”.

* Informações retiradas do livro:
Pier Giorgio Frassati
P. Marmoiton S.J.
Edição Cruzada da Boa Imprensa
Rio de Janeiro -1935

** Eduardo Henrique da Silva é responsável pelo site de Pier Giorgio Frassati no Brasil.
Leigo Domenicano, profundo conhecedor e entusiasta de Pier Giorgio.

Ser cristão significa ir contra a corrente, recorda o Papa

Pier Giorgio e Luciana Frassati

Osservatore Romano (Colab. Lucas Evyatar)

Durante um discurso dirigido ao meio-dia na Sala Clementina a uma delegação da Federação Universitária Católica Italiana (FUCI), o Papa Bento XVI recordou que ser cristão no mundo de hoje implica ser contracorrente. Em seu discurso o Pontífice elogiou a FUCI por ter contribuído “à formação de inteiras gerações de cristãos exemplares, que souberam traduzir o Evangelho na vida e com a vida, comprometendo-se no âmbito cultural, civil, social e eclesiástico”. A respeito recordou os beatos Pier Giorgio Frassati e Alberto Marvelli, assim como aos políticos italianos Aldo Moro (grande admirador de Pier Giorgio)  e Vittorio Bachelet, vilmente assassinados” e a Paulo VI, “que foi assistente eclesiástico central da FUCI nos difíceis anos do fascismo”. O Santo Padre destacou também “o testemunho convincente da ‘possível amizade’ entre a inteligência e a fé, que suporta o esforço incessante de conjugar a maturidade na fé com o crescimento no estudo e a aquisição do saber científico”. Bento XVI destacou que “o estudo é, ao mesmo tempo, uma oportunidade providencial para avançar pelo caminho da fé, porque a inteligência bem cultivada abre o coração do ser humano à escuta da voz de Deus, evidenciando a importância do discernimento e da humildade”. “Tanto hoje como no passado, quem quer ser discípulo de Cristo está chamado a ir contracorrente” e a não deixar-se influenciar por mensagens que convidam “à prepotência e à conquista do êxito com todos os meios”. Depois de destacar que na sociedade atual existe “uma corrida às vezes desenfreada à aparência e ao desejo de possuir em detrimento, por desgraça, do ser”, o Santo Padre assegurou que “a Igreja, mestra em humanidade, não se cansa de exortar especialmente às novas gerações, às que pertencem, a estar atentas e a não temer na hora de decidir caminhos ‘alternativos’ que só Cristo sabe indicar”. “Jesus chama a todos seus amigos a modelar sua existência de um modo sóbrio e solidário, a estabelecer relações afetivas sinceras e gratuitas com outros. A vós, jovens estudantes -concluiu-, pede-lhes lhes comprometer honestamente no estudo, cultivando um sentido de responsabilidade amadurecido e um interesse compartilhado pelo bem comum. Que nos anos da Universidade ofereçam um testemunho evangélico convencido e valente”.

Osservatore Romano 09.11.2007
* Colaboração Lucas Evyatar (*1976-2008)
Jovem de origem judaica depois convertido e grande admirado da figura de Pier Giorgio.

Carta convite à celebração do aniversário de Pier Giorgio

Associazione Pier Giorgio Frassati
Roma

“Eu tenho certa predileção pelo Apóstolo da Caridade”.”
Pier Giorgio

(de uma carta a Marco Beltramo
25 de março de 1925)

Para as Associações, Oratórios,
Escolas e Grupos dedicados a Pier Giorgio Frassati;
Àqueles dedicados ao ministério com os jovens;
Às confrarias, aos seminários, aos institutos,
Para todas as comunidades religiosas,
Para todos os amigos de Pier Giorgio.

Mihi vivere Christus est. Filipenses 1 :21

Caros Amigos,

Essas  palavras de São Paulo personificam Pier Giorgio. Sendo assim, neste ano dedicado a São Paulo, nosso presente para o aniversário de Pier Giorgio não poderia ser outro que não a honra a esse grande Apóstolo, a quem ele amou apaixonadamente. Sua irmã Luciana, no livro “A Fé de Frassati”, testemunhou: “Pier Giorgio sempre levou São Paulo consigo num livro de bolso; foi o São Paulo de que Pier Giorgio copiava reiteradamente as passagens à mão; eram as palavras do Apóstolo da Caridade que ele repetia nas ruas ou lia aos amigos de quarto; foi tal Apóstolo que ele recomendou com entusiasmo como um indiscutível parâmetro para a vida cristã. Não é difícil, portanto, imaginar a alegria que Pier Giorgio sentiria ao receber este presente no seu aniversário: a meditação das cartas de Paulo e nosso compromisso para convencer mais dois amigos a fazerem o mesmo.

Nós tivemos uma graça pelo fato de que o padre Thomas Rosica, CSB, CEO, presidente da “Rede Católica de Televisão Sal e Luz” do Canadá , ter composto uma novena que constitui um verdadeiro itinerário para ação e meditação dos ensinamentos de São Paulo. Começando no da 28 de março, vamos procurar encontrar tempo todos os dias para ler e refletir as epístolas recomendadas pela novena. Vamos pedir ao nosso Amigo Bem-Aventurado para nos ajudar a entender o sentido das cartas, de encontrar o poder de transformar nossas vidas e proclamar que nós queremos viver, e não apenas fingir que vivemos, já que Mihi vivere Christus est.

Vamos pedir a Pier Giorgio que nos ensine a amar com sua força e seu amor; vamos pedir-lhe especialmente, no dia 6 de abril, o seu aniversário, quando nós estivermos todos unidos espiritualmente adorando a Fonte do Amor: a Eucaristia. Nós também poderemos oferecer presentes a Pier Giorgio todos os pequenos gestos que podemos fazer durante a novena. Que ele possa alegremente apresentá-los a Jesus.

COMO PARTICIPAR:

Aqueles que desejam participar dessa iniciativa podem adicionar seus nomes  na lista,  enviando-os por email  para info@tipiloschi.com. Apenas apresente seu nome ou de seu grupo, a cidade e o país de origem. Como nos anos anteriores, todos os participantes serão listados no website dos Tipi Loschi (www.tipiloschi.com) onde poderão também fazer o download, em várias línguas, para o seu uso, do texto da novena.

Feliz Aniversário, Pier Giorgio!

Nicolò Anselmi
(Italian National Youth Ministry)

Wanda Gawronska
(Associazione Pier Giorgio Frassati)

Marco Sermarini
(The Tipi Loschi Society of Blessed Pier Giorgio Frassati)’

19 de Março de 2009.

Clique aqui para ver o texto da novena.

Dois homens ardentes de amor por Jesus e pelos necessitados

Domenico Nicodemo

Era a Primavera de 1925 quando Pier Giorgio Frassati, com apenas 24 anos, a dois passos da morte, veio a exclamar: “O dia que for mais velho e puder fazer o que quero, farei como fez Cottolengo. Vou querer ajudar todos os pobres e crianças que vivem na necessidade.”

Pier Giorgio consumiu sua exuberante juventude no amor por Jesus, pelos necessitados e pelas montanhas. Hoje seu nome, que encerra uma das mais límpidas experiências do Evangelho, é um dom que o Espírito concedeu e concede a toda a Igreja.

No fim do mês de julho de 1925, o senador Frassati, ainda abalado pela perda do filho, veio à Pequena Casa. Queria erguer e dedicar um edifício em memória de Pier Giorgio. Ouviu como resposta que no Cottolengo os edifícios se dedicam apenas aos santos. Intervém o cardeal Gamba, arcebispo de Turim: “o beato Cottolengo e Pier Giorgio, dois grandes amigos dos necessitados, dois santos … Ficam bem juntos !”

Os escritores, ao descrever a luminosa experiência de amor de Pier Giorgio, muito oportunamente, evidenciaram o seu exercício de caridade no âmbito da Conferencia de São Vicente, mas deixaram na penumbra seu serviço de voluntariado dentro da Pequena Casa. Parecia estranho a eles que um jovem como Pier Giorgio, para quem humanamente nada faltava, pudesse se interessar por problemas existenciais dos hóspedes do Cottolengo. Uma busca mais aprofundada mostra bem o contrário.

Ernesto Atzori, um seu amigo e companheiro de estudos, relembrando esse serviço de voluntariado depõe: “Sua caridade não se limitava a procurar as ocasiões individuais para exercitar-se, mas de bom grado utilizava o momento e os lugares onde a massa sofria.”

Subir as escadas que levam a um covil, pode custar um esforço ainda de não indiferença, mas no fundo, no caráter privado e limitado do gesto, está contida a explicação do porque este se possa cumprir. Ao contrario, passar de cama em cama, de uma doença para outra, de uma angustia para outra, e isso regularmente, muitas vezes ao mês, em todas as estações, no verão como no inverno, como fazia Pier Giorgio, não é coisa simples. Ele levava ao Cottolengo amigos e amigas, para dividir com os outros a alegria desta descoberta de repartir e amar.

Comentando essas experiências, Pier Giorgio afirmava: “Uma visita ao Cottolengo faria bem a todos os homens”. E acrescentava: “Através do Cottolengo seria fácil para qualquer um compreender bem os valores autênticos da vida, deixando de fora cada abandono inconsciente à existência de todos os dias.”

Mario Ghembera, outro estudante voluntário, lembra que “o destino preferido das saídas de Pier Giorgio era o Cottolengo. Ele passava entre os corredores com zelo vigilante e seguro, consolando, parando de bom grado para conversar com os doentes, como se fossem verdadeiramente irmãos, como os chamava, beijando-os como aos mais caros amigos.”

Rina Reynaud conta um de seus encontros casuais com Pier Giorgio, na rua da Consolata: “Quer vir comigo? Vou ao Cottolengo… Poderia me dar uma mão!”

Rina ficou surpresa quando viu que os hóspedes da Pequena Casa acolhiam Pier Giorgio como a um amigo e quanto conforto tinham com sua presença”. Voltando à suas respectivas casas, Rina descobriu uma dimensão nova sobre esse prestativo e surpreendente jovem que era admirado pela população, particularmente estudantil, de Turim: “ Me parecia um veterano sobrevivente de outro mundo. Sobre seu vulto transfigurado havia aquela intensa luz de espiritualidade que talvez ilumine somente as criaturas mais próximas de Deus“.

Don Bernardo Ponzetto, que algumas vezes acompanhou Pier Giorgio ao Cottolengo, declara “ter ficado mais do que surpreso, admirado, pela alegria com a qual ele se aproximava dos doentes.”

Giovanni Perfece, que foi hóspede do Cottolengo por muitos anos, lembra com admiração Pier Giorgio que aparava e enxugava a baba de um menino invalido, com limitações psíquicas, cego e surdo mudo: ”Era algo excepcional ver um jovenzinho descer ao nível de tamanha miséria, com tanto zelo maternal. Infelizmente – ele acrescentava – tantos episódios de fatos estupendos foram perdidos por nós. Grande parte das irmãs que naquele tempo o conheceram na Pequena Casa já faleceram, sem nunca terem sido interrogadas.”

As experiências de Pier Giorgio como voluntário do Cottolengo são ainda lembradas por Franca Ca’ Zorzi, Francesco Ghezzi, Carlo Geomis, Francesco Foi, mas seria muito longo reproduzir suas exposições. Fecho com o testemunho do cotolenguiano irmão Fillipo Petrino, uma figura patriarcal da Pequena Casa, recentemente desaparecido, com mais de noventa anos, depois de 73 anos de vida religiosa: “ Conheci Pier Giorgio Frassati quando era superior dos irmãos enfermeiros no Cottolengo: devo dizer que observava aquele grande jovenzinho que se distinguia de todos os outros… Serio, reservado em atitudes e palavras, parecia transfigurar-se quando junto aos doentes…Tinha dentro de si o espírito do Senhor”.

“Somos todos instrumentos indignos da Divina Providência”.

Assim se lê nas anotações de Pier Giorgio para um discurso sobre caridade. A experiência cotolenguiana seguramente desenvolveu na alma de Pier Giorgio uma grande confiança na Divina Providencia. Ele se refere a cada circunstancia, cada alegria e cada sofrimento humano, também o mais dilacerante, como um desenho preciso da Divina Providencia. Em seu epistolário de cartas endereçadas a vários amigos, temos pelo menos dez referencias explicitas a esse atributo divino.

Ele, assim como Cottolengo, freqüentemente repetia: “A Providencia proverá! “

Escreve Clemente Grosso, seu coirmão da São Vicente: “ Pier Giorgio acreditava na Providencia com a força de quem se sente concretamente ajudado por um espírito superior”.

Um dia, durante um passeio pela montanha, num momento de descanso, tentou explicar da melhor forma que conseguiu ao universitário Silvio Caligaris, que queria entender a sua conduta de condivisão existencial nos desafios de todos os homens, particularmente dos menos afortunados. “A igualdade não pode vir de nós, mas de Deus, e se alguém considera cada coisa como oferecida e criada pela bondade de Deus, resulta que todos somos iguais: pobres e ricos e que a Providencia de equilíbrio, distribuindo a cada um, age a ponto de igualá-los, de forma que compreendamos felicidade e contrariedade como dadas por Deus…”.

É uma resposta de fé que tomada isoladamente, poderia dizer pouco, mas encarnada na realidade de sua experiência de amor é muito semelhante às “respostas” que o santo Cottolengo dava e dá aos problemas existenciais dos homens.

Nestes últimos anos, particularmente de 1968 em diante, centenas de jovens vêm à Pequena Casa para contestar as escolhas de nossa sociedade, mas mais ainda para experimentar sua disponibilidade concreta ao amor evangélico e, como Pier Giorgio, revigoram-se a si mesmos e na fé com a qual os doentes suportam as dores mais terríveis, redimensionando o egocentrismo inato, descobrem a perene e antiga primavera do amor de Cristo irmão universal.

“O Nosso tempo”, 3 de julho de 1977