Nélio Rodrigues*
Prestemos atenção ao seguinte relato: “Entre os amigos, quantas vezes não aconteceu que, para dissipar com um clarão de alegria a atmosfera pesada de uma palestra, e para fazer rir um colega visivelmente preocupado, puxasse de propósito uma cadeira, suspirasse ou desse uma engraçada modulação à voz para fazer rir e aliviar um pouco os espíritos (…). Gostava das algazarras e aventuras (…). Convidado para cear no seminário, chegou a ter a idéia extravagante de descer ao refeitório e encher de água as xícaras dos seminaristas, virando-as sobre os pires” (P. Marmoiton S. J.). Um olhar superficial sobre esta descrição talvez não revele muito sobre o personagem, ou abra bastante espaço para julgamentos prévios. Talvez um baderneiro, um adolescente que queria a atenção dos seus amigos, etc. Poderia até ser, caso não estivéssemos falando de alguém que está prestes a ser venerado como santo pela Igreja Católica: o bem-aventurado Pier Giorgio Frassati.
Podemos perceber, na figura de Frassati, que os santos estão cada vez mais próximos de nós, da nossa realidade cotidiana. Deus, em sua infinita misericórdia e inclinação às necessidades do homem, suscita, em diferentes épocas e situações, homens e mulheres que respondem de forma coerente e firme ao Seu chamado. São pessoas que, pelo seu “sim”, servem como exemplo para toda uma geração que enfrenta problemas e vivências semelhantes. E é neste ponto que surge o fascínio por um jovem que soube viver e conjugar valores que aos olhos do mundo são antagônicos, mas aos olhos de um cristão católico maduro não só são conciliáveis como fazem parte de uma mesma realidade.
Passaria horas falando sobre cada uma das virtudes de Frassati, mas me atenho a um aspecto que considero como central, que merece ser enfatizado: a sua maturidade, a capacidade de viver uma vida INTEGRAL. Nem se quiséssemos nós conseguiríamos fragmentar sua pessoa em áreas distintas, pois sua maturidade espiritual unia todas elas: religiosidade, sexualidade, afetividade, vida familiar, estudos, amigos, etc. Não escondia seus valores por respeito humano, nem media esforços para temperar com fé toda sua vida. Tudo era vivido de forma única, sem se esconder atrás de um personagem em cada situação; Frassati era um só, onde quer que estivesse! Isto é digno de pessoas maduras, figuras cada vez mais raras…
Sobre maturidade espiritual, Dom Rafael Cifuentes parece se referir ao nosso amigo quando diz que, “assim como a semente tende a desenvolver todas as potencialidades que estão no seu código genético, da mesma maneira a vida da graça, recebida no Batismo, tende à sua plena maturidade. Essa maturidade pode ser chamada de santidade. Santidade e maturidade, neste sentido, são sinônimos. A santidade não é algo extraordinário, mas a conseqüência ordinária do amadurecimento da alma que corresponde à graça do Espírito Santo” (A Maturidade, Editora Quadrante)
Procuremos corresponder à graça do Espírito Santo. Só assim nossa vida será impulsionada à maturidade plena, encontrada somente naqueles que buscam a santidade. E, após este breve escrito, o convite: conheça e torne-se amigo de Pier Giorgio Frassati*. Com certeza ele nos espera para nos levar “Para o Alto”!
* “…para a vida espiritual é importante ter ao menos um amigo entre os santos, que invocamos e por meio do qual crescemos nessa consciência (da plenitude das relações dos que participam de Cristo). Os santos não são, portanto, simples modelos a serem imitados, coisa que facilmente cairia no moralismo e na despersonalização psicológica. Eles são, sobretudo, uma inspiração espiritual que chega até nós por meio de relações reais, por meio da Igreja, da liturgia… Nesse tecido eclesial, nessa amizade espiritual, podemos dar espaço e corpo à inspiração inicial, enquanto os santos intercedem por nós e de fato nos ajudam”. (Pe. Marco Ivan Rupnik, O Discernimento)
*Jovem advogado,empenhado em diversos grupos de evangelização,grande amigo e devoto de Pier Giorgio