“Eis aqui como aparecia o homem das oito Bem-aventuranças, que leva consigo a graça do Evangelho, da Boa Nova, da alegria da salvação que Cristo nos oferece”.
João Paulo II – Cracóvia, 27.III.1977
“Ele proclama, com seu exemplo, que vale a pena sacrificar tudo para servir ao Senhor. Testemunha que a santidade é possível para todos e que só a revolução da caridade pode incendiar no coração dos homens a esperança de um futuro melhor”.
João Paulo II – Roma, 20.V.1990
Os que pensam que os santos são pessoas tímidas e solitárias, que depreciam esta vida só pensando na outra, ficarão surpreendidos diante da figura do beato Pier Giorgio Frassati.
Verdadeiro brincalhão, apelidado de “Robespierre” por seus amigos, com quem formou a associação denominada “I tipi loschi” – os tipos arruaceiros. Frassati foi um amigo dos pobres e via neles o Cristo. São especialmente os jovens, que em sua busca por um modelo, encontram alguém com quem se identificar, já que Pier Giorgio fez de sua curta vida uma “aventura maravilhosa”.
Pier Giorgio Frassati nasceu em Turim, Itália, em 6 de abril de 1901. Sua mãe, Adelaide Ametis era pintora. Seu pai Alfredo, agnóstico, foi fundador e diretor do jornal liberal “La Stampa”. Homem influente entre os políticos italianos, desempenhou também os cargos de Senador e Embaixador da Itália na Alemanha.
Pier Giorgio estudou em sua casa antes de ingressar em uma escola estatal junto com sua irmã Luciana; posteriormente freqüentou uma escola dirigida por jesuítas. Ali se associou a Congregação Mariana e ao Apostolado de Oração, chegando a comungar diariamente.
Pier Giorgio desenvolveu uma profunda vida espiritual que nunca deixou de compartilhar com seus amigos. A Santa Eucaristia e a Virgem Maria foram os pólos de seu mundo de oração. Aos 17 anos de idade, em 1918, ingressou na Sociedade São Vicente de Paulo e dedicou a maior parte de seu tempo livre ao serviço dos doentes e necessitados, cuidando dos órfãos e dos soldados da primeira guerra mundial que voltavam para suas casas. Decidiu se graduar em engenharia mineral na Universidade Politécnica de Turim, com a finalidade de “servir melhor a Cristo entre os mineiros”, como expressou a um amigo.
Sem embargo, seus estudos, que considerava sua prioridade, não o apartaram da sua fervente atividade social e política. Em 1919 se associou a Federação de Estudantes Católicos e a Ação Católica. Diferenciando-se das idéias políticas de seu pai chegou a ser membro verdadeiramente ativo do Partido Popular que promoveu os ensinamentos da Igreja Católica embasadas nos princípios da “Rerum Novarum”. Também concebeu a idéia de unir a Federação de Estudantes Católicos à Organização Católica de Trabalhadores. “A caridade não basta: necessitamos de uma reforma social”, costumava dizer trabalhando para ambas.
Os pobres e os sofrimentos eram seus donos e ele foi para eles um verdadeiro servo, vivendo essa ocupação como um privilégio. Em Pier Giorgio, a caridade não consistia só em entregar algo para os demais, mas antes, em se entregar a si mesmo por inteiro. Essa caridade se sustentava diariamente com Jesus Cristo Eucaristia, com a freqüente adoração noturna, com a meditação do hino da caridade de São Paulo e com as ardentes palavras de Santa Catarina. Às vezes, sacrificava suas férias na casa de verão da família Frassati, no vilarejo de Pollone, já que “Se todos saem de Turim, quem vai se encarregar dos pobres?”.
Pier Giorgio era um entusiasta esportista; um dos seus esportes favoritos foi o alpinismo. As excursões que organizava com seus amigos, os “Tipi Loschi” eram para ele uma ocasião concreta de apostolado.
Costumava ir ao teatro, à opera e aos museus; amava a arte, a música e proclamava versos inteiros de Dante. Os veementes sermões de Savanarola e os escritos de Santa Catarina de Sena o impulsionaram a ingressar em 1922 na Terceira Ordem Dominicana. Quis se chamar de Jerônimo, como o missionário dominicano e reformador do Renascimento florentino, Jerônimo Savanarola. “Sou um fervoroso admirador desse frei, que morreu como um santo na fogueira”, escreveu um dia a um amigo.
Tal qual seu pai, foi um vigoroso antifascista e nunca escondeu suas idéias políticas. A principio se viu envolto em disputas contra os anticlericais, comunistas primeiro e fascistas depois. Ao participar em uma demonstração organizada pela Igreja em Roma, sofreu a violência e foi preso pela polícia.
Pouco antes de se formar, Pier Giorgio se contagiou com poliomielite, enfermidade que segundo os médicos contraiu pela sua dedicação aos doentes. A agonia e morte de sua avó ocorrida dias antes, ocultou o declínio de sua saúde. Faleceu depois de seis dias de terríveis sofrimentos, em 4 de julho de 1925, aos 24 anos de idade. Sua última preocupação foram os pobres.
Seu funeral foi um triunfo, as ruas da cidade se encheram de gente que chorava sem consolo e que sua família não conhecia: eram os pobres e necessitados que ele havia atendido sem desanimo durante sete anos; muitos deles ficaram surpreendidos ao se interarem de que o jovem que conheciam, pertencia a uma família tão poderosa. Numerosos peregrinos, em especial jovens e estudantes, vão ao túmulo de Pier Giorgio para solicitar favores e coragem para seguir seu exemplo. Em 1981, como última etapa do Processo Apostólico, foram exumados seus restos mortais, encontrando-se o corpo de Pier Giorgio intacto, com um sorriso iluminado.
O Papa João Paulo II, depois de ter visitado seu túmulo em Pollone, em 1989 disse: “quero render homenagem a um jovem que soube ser testemunho de Cristo com singular eficácia no nosso século. Eu também conheci, na minha juventude, a benéfica influência de seu exemplo, e quando estudava fiquei marcado pela força de seu exemplo cristão”.
Em 20 de maio de 1990, na praça de São Pedro, diante de dezenas de milhares de fiéis, o Papa João Paulo II beatificou Pier Giorgio Frassati, considerando-o como “O Homem das oito Bem-Aventuranças”. Seus restos mortais foram trasladados do túmulo da família Frassati em Pollone para a Catedral de Turim.
“Pier Giorgio é também o homem do nosso século, o homem moderno, o homem que amou muito. É um mestre a ser seguido. […] Nele o Evangelho se converte em solidariedade e acolhida, se faz busca da verdade e exigente compromisso em favor da justiça. A oração e a contemplação, o silêncio e a prática dos sacramentos dão força ao seu variado apostolado, e toda existência, vivificada pelo espírito de Deus, se transforma em aventura maravilhosa.
Ele se foi jovem deste mundo, porém deixou um rastro em todo o século, e não só no nosso século”.
Tratem de conhece-lo! A ele confio o vosso empenho missionário.
João Paulo II – Roma, 5.IV.2001
Os jovens levam ao Papa, junto com a Cruz das Jornadas Mundiais da Juventude, a imagem de Pier Giorgio.
Nele a fé e os sucessos quotidianos se fundem harmonicamente, até o ponto em que a adesão ao Evangelho se traduz em atenção amorosa aos pobres e necessitados, crescendo continuamente, até os últimos dias da enfermidade que o levará para morte. O gosto pela beleza e a arte, a paixão pelo esporte e pela montanha, a atenção aos problemas da sociedade não lhe impedem a relação constante com o Absoluto.
Totalmente imerso no mistério de Deus e totalmente dedicado ao constante serviço do próximo: assim podemos resumir sua vida terrena!”