DISCURSO DO PAPA BENTO XVI
NO ENCONTRO COM OS JOVENS DA FEDERAÇÃO
UNIVERSITÁRIA CATÓLICA ITALIANA (FUCI)
Queridos jovens amigos da FUCI!
É-me particularmente agradável esta vossa visita, que realizais no final das celebrações para o 110º aniversário do nascimento da vossa Associação, a FUCI, Federação Universitária Católica Italiana. Dirijo a cada um de vós a minha saudação cordial, começando pelos Presidentes Nacionais e pelo Assistente Eclesiástico Central, e agradeço as palavras que me dirigiram em vosso nome. Saúdo D. Giuseppe Betori, Secretário-Geral da Conferência Episcopal Italiana, e D. Domenico Sigalini, Bispo de Palestrina e Assistente Eclesiástico Geral da Acção Católica Italiana, que vos acompanhou nesta Audiência e com a sua presença testemunham o forte enraizamento da FUCI na Igreja que está na Itália. Saúdo os Assistentes diocesanos e os membros da Fundação da FUCI. A todos e a cada um renovo o apreço da Igreja pelo trabalho que a vossa Associação desempenha no mundo universitário ao serviço do Evangelho.
A FUCI celebra os seus 110 anos: uma ocasião propícia para olhar para o caminho percorrido e para as perspectivas futuras. A preservação da memória histórica representa um precioso valor para que, ao considerar a qualidade e a consistência das próprias raízes, somos mais facilmente estimulados a prosseguir com entusiasmo o percurso iniciado. Nesta feliz circunstância, retomo de bom grado as palavras que há dez anos o meu amado predecessor João Paulo II vos dirigiu, por ocasião do vosso centenário: “A história destes 100 anos disse ele confirma precisamente que a vicissitude da FUCI constitui um capítulo significativo na vida da Igreja na Itália, em particular naquele vasto e multiforme movimento laical que tem o seu eixo fundamental na Acção Católica” (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, XIX, 1 [1996], pág. 1110).
Como não reconhecer que a FUCI contribuiu para a formação de gerações inteiras de cristãos exemplares, que souberam traduzir na vida e com a vida o Evangelho, comprometendo-se a níveis cultural, civil, social e eclesial? Penso, em primeiro lugar, nos beatos Piergiorgio Frassati e Alberto Marvelli, vossos coetâneos; recordo personalidades ilustres como Aldo Moro e Vittorio Bachelet, ambos barbaramente assassinados; também não posso esquecer o meu venerado predecessor Paulo VI, que foi atento e corajoso Assistente eclesiástico central da FUCI nos anos difíceis do fascismo, e depois os Monsenhores Emílio Guano e Franco Costa. Além disso, os últimos dez anos caracterizaram-se pelo compromisso decidido da FUCI em redescobrir a própria dimensão universitária. Depois de não poucos debates e intensas discussões, nos meados dos anos 90, na Itália foi lançada mão de uma radical reforma do sistema académico, que agora apresenta uma nova fisionomia, cheia de prometedoras perspectivas, mas também com elementos que suscitam uma legítima preocupação. E vós, quer nos recentes Congressos quer nas páginas da revista Ricerca, preocupastes-vos constantemente pela nova configuração dos estudos académicos, das relativas modificações legislativas, do tema da participação estudantil e dos modos como as dinâmicas globais da comunicação incidem sobre a formação e transmissão do saber.
É precisamente neste âmbito que a FUCI pode expressar plenamente também hoje o seu antigo e sempre actual carisma: isto é, o testemunho convicto da “possível amizade” entre a inteligência e a fé, que exige o esforço incessante de conjugar a maturação na fé com o crescimento no estudo e a aquisição do saber científico. Neste contexto adquire um valor significativo a expressão que tanto apreciais: “crer no estudo”. De facto, por que considerar que quem tem fé deve renunciar à pesquisa livre da verdade, e quem procura livremente a verdade deve renunciar à fé? Ao contrário é possível, precisamente durante os estudos universitários e graças a eles, realizar uma autêntica maturação humana, científica e espiritual. “Crer no estudo” significa reconhecer que o estudo e a pesquisa especialmente durante os anos da Universidade prosseguem com uma força intrínseca de ampliação dos horizontes da inteligência humana, sob condição de que o estudo académico conserve um perfil exigente, rigoroso, sério, metódico e progressivo. Aliás, com estas condições ele representa uma vantagem para a formação global da pessoa humana, como costumava dizer o Beato Giuseppe Tovini, afirmando que com o estudo os jovens nunca seriam pobres, enquanto que sem o estudo nunca seriam ricos.
O estudo constitui, ao mesmo tempo, uma providencial oportunidade para progredir no caminho da fé, porque a inteligência bem cultivada abre o coração do homem à escuta da voz de Deus, ressaltando a importância do discernimento e da humildade. Referi-me precisamente ao valor da humildade no recente Encontro de Loreto, quando exortei os jovens italianos a não seguir o caminho do orgulho, mas o de um sentido realista da vida aberto à dimensão transcendente. Hoje, como no passado, quem quer ser discípulo de Cristo é chamado a ir contra a corrente, a não se deixar levar por atractivos interessantes e persuasivos que provêm de diversos púlpitos onde são difundidos comportamentos marcados pela arrogância e pela violência, pela prepotência e pela conquista do sucesso com qualquer meio. Registra-se na sociedade actual uma corrida por vezes desenfreada para o parecer e ter em desvantagem infelizmente do ser, e a Igreja, mestra em humildade, nunca se cansa de exortar especialmente as novas gerações, às quais vós pertenceis, a permanecer vigilantes e a não temer a escolha de vias “alternativas” que só Cristo sabe indicar.
Sim, queridos amigos, Jesus chama todos os seus amigos a orientar a sua existência para um modo de viver sóbrio e solidário, a tecer relações afectivas sinceras e gratuitas com os outros. A vós, queridos jovens estudantes, pede que vos comprometais honestamente no estudo, cultivando um sentido maduro de responsabilidade e um interesse partilhado pelo bem comum. Portanto, os anos da Universidade sejam palestra de testemunho evangélico convicto e corajoso. E para realizar esta vossa missão, procurai cultivar uma amizade íntima com o Mestre divino, colocando-vos na escola de Maria, Sede da Sabedoria. Confio-vos à sua materna intercessão e, ao garantir-vos uma lembrança na oração, concedo de coração a todos com afecto uma especial Bênção Apostólica, que de bom grado faço extensiva às vossas famílias e às pessoas que vos são queridas.
Sexta-feira, 9 de Novembro de 2007
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